Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
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da alienação tem de desaparecer da História. Estamos inventan<strong>do</strong> um mun<strong>do</strong> novo e<br />
original. A imaginação está toman<strong>do</strong> o poder (apud ROSZAK, 1972: 33).<br />
O fato é que jovens americanos (uma minoria deles), na década de 60,<br />
empreenderam um conflito de gerações que transcendeu a mera remodelagem habitual da<br />
cultura herdada em aspectos secundários e superficiais. Ten<strong>do</strong> isso por base, o que torna<br />
especial a transição ocorrida nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s é a profundidade de antagonismo que ela<br />
revela. É aí onde, para ele, nasce o conceito de contracultura, no contexto específico<br />
americano <strong>do</strong>s anos 60, que reflete “uma cultura tão radicalmente dissociada <strong>do</strong>s<br />
pressupostos básicos de nossa sociedade que muitas pessoas nem sequer consideram uma<br />
cultura, e sim uma invasão bárbara de aspecto alarmante” (ROSZAK, 1972: 54). Para<br />
Maria José Arias, a contracultura era a “modelagem física” de um grupo de jovens<br />
insatisfeitos com os valores da sociedade, e que percebera o processo de alienação a que<br />
eram submeti<strong>do</strong>s e que os “envolviam numa engrenagem de que eles, como indivíduos,<br />
eram apenas uma peça a mais” (ARIAS, 1979: 114).<br />
E qual a alternativa proposta pelos preconiza<strong>do</strong>res da contracultura frente à<br />
<strong>do</strong>minação tecnocrática? Em suma, era uma vida baseada no “amor a todas as coisas” e<br />
calcada sobre o tempo presente, sem “hipotecas sobre o futuro”. As principais ocupações<br />
<strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s flower children eram os trabalhos manuais, o artesanato, agricultura,<br />
“apanhar sol”, música, literatura e a ingestão de substâncias que de alguma forma<br />
expandiam a consciência. Os hippies, por exemplo, chegaram a fundar diversas<br />
comunidades utópicas, afastadas <strong>do</strong>s centros urbanos, onde um novo mo<strong>do</strong> de vida pudesse<br />
desenvolver-se.<br />
A construção da Grande Sociedade não era vista, pelos movimentos da<br />
contracultura, como uma empreitada social, mas um processo que deve pairar sobre a esfera<br />
<strong>do</strong> psíquico, provocan<strong>do</strong> alterações na essência <strong>do</strong> homem. Por conseguinte, a “rebelião da<br />
juventude” da década de sessenta, mais <strong>do</strong> que um movimento político, era um fenômeno<br />
cultural, pelo “fato de passar por cima da ideologia, procuran<strong>do</strong> atingir o nível da<br />
consciência, buscan<strong>do</strong> transformar nosso senti<strong>do</strong> mais profun<strong>do</strong> <strong>do</strong> ego, <strong>do</strong> próximo, <strong>do</strong><br />
ambiente” (ROSZAK, 1972: 61). Para Roszak, as premissas tecnocráticas quanto à natureza<br />
<strong>do</strong> homem e da sociedade deformaram o homem, portanto:<br />
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