19.06.2013 Views

Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

imbecis que usam drogas diferentes de cocaína ou maconha, é aconselhável que tomem os<br />

cogumelos ao menos acompanha<strong>do</strong>s de algum amigo sóbrio e, se possível, em casa, numa<br />

sala confortável, sem decoração agressiva, com música decente e calma tocan<strong>do</strong>. [...] Há<br />

várias formas de ingestão. A mais popular é a infusão. Basta ferver os cogumelos durante<br />

alguns minutos, poden<strong>do</strong>-se acrescentar vinho, cachaça, sucos, ervas, qualquer coisa. O<br />

gosto é tenebroso, em compensação bate mais rápi<strong>do</strong>. Minha forma preferida é lavar e<br />

comê-los dentro de um pão, cabeças e caule. Dá menos trabalho, a onda chega de forma<br />

mais suave, dura mais e é mais forte. Café ou cerveja ajudam a tirar o gosto ruim da boca. A<br />

<strong>do</strong>se, no caso de ingestão <strong>do</strong>s cogumelos inteiros, é de 4 ou 5 grandes por pessoa. Tenha em<br />

mente que a viagem é muito potente, e o risco de bad trip é alto. Quanto a riscos físicos,<br />

além <strong>do</strong>s possíveis acidentes (atropelamentos, quedas, etc.), há a possibilidade de um surto<br />

psicótico. Algumas pessoas jamais retornam dele. (adaptação minha)<br />

“Car<strong>do</strong>so” lembra que Hunter Thompson “dizia que demorou muito tempo pra se<br />

dar conta de que sem drogas dá pra ficar muito mais altera<strong>do</strong> <strong>do</strong> que com elas”. Portanto,<br />

não é somente a partir das drogas que os gonzo-jornalistas incorporam uma visão alucinada<br />

da <strong>realidade</strong>. Toda experiência pode ser encarada como um momento psicodélico, opiáceo.<br />

Na matéria Capitão, tu me vê um Natu aí, por gentileza? uma partida de futebol é o fator<br />

altera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de consciência. E, para “perceber com exatidão” os efeitos de tal<br />

situação sobre a torcida, o repórter prefere acompanhar a partida “livre de aditivos”. Nota-<br />

se, entretanto, que o fato de não estar sob o efeito de drogas (ou afirmá-lo) não impede o<br />

autor de apreender o caráter insano da circunstância.<br />

Faltam ainda alguns minutos para o começo <strong>do</strong> jogo quan<strong>do</strong> percebo, um tanto irrita<strong>do</strong>, que<br />

o o<strong>do</strong>r produzi<strong>do</strong> pela minha saburra lingual empesteia alguns pares de centímetros cúbicos<br />

em volta da minha cabeça. Não guardei muitas lembranças da última vez que estive em um<br />

estádio de futebol, edificação igualmente gigantesca e bizarra que abriga uma das maiores<br />

quantidades de vicia<strong>do</strong>s e fanáticos legalmente autoriza<strong>do</strong>s a cometerem as suas<br />

barbaridades. Sobre o futebol foi escrito o mesmo que sobre a religião: é o ópio das massas.<br />

Como o ópio por essas paragens permanece ilegal e de acesso praticamente impossível (a<br />

não ser em suas nojentas versões modernosas remixadas pela química), talvez o futebol seja<br />

o último fricote de massa capaz de produzir os efeitos estupefacientes deseja<strong>do</strong>s pelo grosso<br />

contingente que preenche boa parte das gerais e das cadeiras no Estádio Olímpico, lar <strong>do</strong><br />

glorioso Grêmio Futebol Porto Alegrense.<br />

87

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!