Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
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Fechan<strong>do</strong> os parênteses, tratemos de fazer um breve intercurso com repórteres e<br />
publicações que incorporaram pelo menos alguns elementos da estética gonzo. O merca<strong>do</strong><br />
editorial brasileiro já foi permea<strong>do</strong> por algumas experiências gonzo, no senti<strong>do</strong> amplo da<br />
palavra. Exemplos escassos de experimentos catárticos de jornalismo, colhi<strong>do</strong>s por<br />
intermédio da observação empírica, serão enumera<strong>do</strong>s neste tópico para fins de<br />
contextualização. Nosso objetivo aqui é mostrar que, a despeito <strong>do</strong>s rótulos, nomenclaturas<br />
e classificações por gênero, o jornalismo brasileiro possui sua vertente contesta<strong>do</strong>ra já há<br />
algum tempo. Contestação aqui é dita, não somente no que tange a ideologias, mas no que<br />
concerne à própria práxis <strong>do</strong> jornalismo.<br />
O primeiro nome que vem à tona quan<strong>do</strong> o assunto é formas pouco usuais de<br />
jornalismo no Brasil é o de Arthur Veríssimo, da revista Trip. Sob o pseudônimo de Gian<br />
Danton, o professor Ivan Carlo afirma que “exemplos de jornalismo gonzo estão se<br />
tornan<strong>do</strong> cada vez mais freqüentes na imprensa brasileira. Arthur Veríssimo, da revista<br />
Trip, foi o primeiro a celebrizar esse estilo no Brasil” (DANTON, 2002). Veríssimo ganhou<br />
notoriedade ao realizar coberturas internacionais, nas quais mostrava culturas milenares sob<br />
um ponto de vista pouco orto<strong>do</strong>xo. O excerto abaixo foi extraí<strong>do</strong> da matéria Nirvana<br />
Unplugged, publicada na 64ª edição da Trip, na qual relata sua passagem pela Índia.<br />
Percebamos que, mais <strong>do</strong> que descrever o local, Arthur Veríssimo relata sua própria<br />
experiência, de uma maneira fortuita e cômica:<br />
Milhares de pessoas bebiam, cagavam e cozinhavam por to<strong>do</strong>s os cantos. Para completar,<br />
fui dar umas braçadas no crowd <strong>do</strong> rio Ganges. Este mergulho entrou para a minha história<br />
pessoal por <strong>do</strong>is motivos: Primeiro, pelo detono que o contato com a água santa mas<br />
infectada <strong>do</strong> rio produziu. Na noite que se seguiu, meu estômago e intestino não fizeram<br />
parte <strong>do</strong> mesmo conjunto. Estavam completamente desentrosa<strong>do</strong>s. Com a barriga totalmente<br />
inchada corri para uma privada. Nem sinal de defecação. Trêmulo de tanto esforço no<br />
troninho, tentei praticar algumas mentalizações e meditações e, como que por milagre, uma<br />
energia divina descarregou to<strong>do</strong>s os gases <strong>do</strong> meu organismo.<br />
Outro nome freqüentemente associa<strong>do</strong> ao conceito de gonzo é Cláudio Tognolli,<br />
que tem no seu currículo passagem pelos jornais Folha de S. Paulo e O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo,<br />
rádio CBN, revista Veja e Rede Globo. Na realização de suas reportagens, infiltrou-se em<br />
torcidas organizadas, teve de fumar crack, chegou a ser expulso de Cuba e já perdeu os<br />
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