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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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maternidade que é a literatura com o exercício da prostituição que é o jornalismo” (apud<br />

CASTRO & GALENO, 2002: 17). Embora estereotipada, tal visão entende essas duas<br />

formas de expressão como detentoras de natureza e especificidades que as situam em<br />

esferas diferentes, intocáveis. Portanto, o primeiro passo para entender as relações entre<br />

jornalismo e literatura é tentar colocá-los como manifestações distintas, unidas por terem a<br />

palavra como objeto, mas separadas por terem segui<strong>do</strong> caminhos paralelos. “<strong>Jornalismo</strong> em<br />

si não é literatura” (JOBIM, 1992: 39). O catedrático Manuel Ángel Vázquez Medel tenta<br />

estabelecer essa diferenciação através da análise da referencialidade <strong>do</strong>s discursos:<br />

No caso <strong>do</strong> discurso jornalístico, deve ser <strong>do</strong>minante a função referencial, por ser a que<br />

articula sua funcionalidade informativa e sua vontade de construir discursos basea<strong>do</strong>s em<br />

fatos reais. No caso <strong>do</strong>s discursos literários, esteja ou não presente a função referencial,<br />

deve <strong>do</strong>minar a função poética ou estética, que reclama atenção sobre o próprio texto (in<br />

CASTRO & GALENO, 2002: 23-24).<br />

Em sua diferenciação deveras simplista, ele afirma que enquanto “os discursos<br />

factuais, próprios <strong>do</strong> jornalismo podem ser, mais ou menos, submeti<strong>do</strong>s à prova de<br />

veracidade ou falsidade, nos discursos literários esta conexão não é pertinente, já que o que<br />

o autor disse, estabelece sua própria referência” (idem: 24). Vimos, contu<strong>do</strong>, neste trabalho,<br />

que tampouco o jornalismo pode angariar tal prova de veracidade por ser, assim como a<br />

literatura, uma forma de expressão mediada pela palavra.<br />

No Brasil, Alceu Amoroso Lima é precursor nos estu<strong>do</strong>s a respeito da linha que<br />

supostamente dividiria os campos literário e jornalístico. Para ele, o jornalismo é um gênero<br />

inseri<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> espectro da literatura, assim como o romance e a poesia, e isso ocorre em<br />

virtude de alguns caracteres que lho atribuem uma aura literária, mas, por outro la<strong>do</strong>,<br />

constitui um gênero específico porque possui elementos que o distinguem das outras<br />

expressões ditas literárias.<br />

O próprio Amoroso Lima atribui à palavra, no jornalismo, a função de decodificar<br />

a <strong>realidade</strong>, mas estabelecen<strong>do</strong>-se critérios para que não deixe de ser “uma arte verbal em<br />

prosa; [...] uma prosa de apreciação; e uma apreciação de acontecimentos” (LIMA, 1969:<br />

41). Na concepção de Amoroso Lima, o jornalismo é um gênero da literatura pelo fato de<br />

constituir-se como “arte da palavra”, com ênfase nos meios de expressão, mas não<br />

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