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Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

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ANEXO 4<br />

FGTS: AS LETRAS DO DEMÔNIO ou BUROCRACIA É OCULTISMO<br />

DE POBRE<br />

por Paula Pó com ilustrações de Eduf e Nelson Azeve<strong>do</strong><br />

Eu achava que já sabia tu<strong>do</strong> sobre ocultismo até conhecer as assusta<strong>do</strong>ras letras: FGTS. São<br />

quatro inocentes sinais gráficos que ganham um poder demoníaco quan<strong>do</strong> juntos, comparável ao<br />

666.<br />

Só que enquanto o tal número da besta atrai as elites, eruditos, diretores de cinema e<br />

metaleiros, o FGTS manipula uma massa desdentada, quasímoda, sedenta por alguns centavos a<br />

mais nas suas contas bancárias.<br />

A iniciação<br />

Segun<strong>do</strong> a imprensa, eu teria uma grana a receber <strong>do</strong> governo. Desde que participasse de<br />

alguns rituais estranhos. Seduzi<strong>do</strong> pelas promessas de consumo, sucesso e poder, resolvi<br />

encarar.<br />

Preenchi alguns papeis que são forneci<strong>do</strong>s descaradamente pelos Correios. Pelo jeito, as<br />

autoridades são coniventes com a burocracia-negra.<br />

Estranhei as palavras de ordem, os sinais esotéricos <strong>do</strong>s formulários e, principalmente, o ar<br />

sombrio das autoridades daquela estranha seita, chama<strong>do</strong>s de "funcionários". Mas estava<br />

disposto a vender minha alma. Nem que fosse fia<strong>do</strong>.<br />

Disseram que eu deveria ir a um templo conheci<strong>do</strong> como Caixa Econômica e aguardar mais<br />

instruções. A expectativa me deixava mais vivo e forte: segui imediatamente para o local.<br />

O templo da perdição<br />

A aparência <strong>do</strong> templo era impressionante: gigante, to<strong>do</strong> de vidro, cerca<strong>do</strong> de pessoas com<br />

roupas cerimoniais. Aproximei-me com cuida<strong>do</strong> e evitei encarar as pessoas.<br />

Esperava que alguém gritasse "Tulsa Doom" e denunciasse que eu era um estranho ali. Mas<br />

parece que não havia inicia<strong>do</strong>s, to<strong>do</strong>s estávamos apenas no primeiro passo da aquisição da<br />

(des)graça.<br />

Revolucionários de fila<br />

Logo na entrada <strong>do</strong> templo, anões, mulheres barbadas, gor<strong>do</strong>s, faquires, cegos, mulheres da<br />

República das Raízes Pretas, to<strong>do</strong> tipo de gente formava uma imensa fila. Posicionei-me e fiquei<br />

em silêncio.<br />

Um <strong>do</strong>s rituais de iniciação era reclamar <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Havia dezenas de ora<strong>do</strong>res de fila: to<strong>do</strong>s<br />

revolucionários, conscientes <strong>do</strong>s problemas <strong>do</strong> país, críticos, eloqüentes. Exalavam litros de<br />

perdigotos.<br />

Perguntava-me porque, afinal, Lênin começou a revolução na Rússia. Fidel Castro então foi de<br />

uma obtusidade bushiana: com a ajuda de uma fila brasileira sua revolução seria uma<br />

quermesse de vila. Nossas fileiras são mais revolucionárias <strong>do</strong> que as <strong>do</strong> Império Romano.<br />

Peregrinação<br />

Nossa peregrinação começou às 10h00. Consegui andar cerca de 3 metros até as 14h00. Depois<br />

é que as coisas ficaram lentas. Só entrei no templo às 17h40: quase 4 horas para andar um

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