19.06.2013 Views

Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

acuava feito um maníaco de pau duro num beco, e minha verba de trabalho estava reduzida<br />

a 0r$ e 25centavos [sic]”. Tais condições de “trabalho” acabam por desencadear problemas<br />

como a impossibilidade de se estabelecer uma pauta adequada ou o atesta<strong>do</strong> de que a pauta<br />

escolhida não havia rendi<strong>do</strong> o resulta<strong>do</strong> espera<strong>do</strong>:<br />

Constatei na manhã seguinte que nada <strong>do</strong> que havia ocorri<strong>do</strong> lá se assemelhava, ainda que<br />

vagamente, a uma pauta gonzostyle (ou seja, nada que explodisse na sua cara, causasse<br />

fagulhas, fosse considera<strong>do</strong> contravenção, ou mesmo te obrigasse a bater em retirada sem<br />

pagar a conta). [...] Ninguém vomitou sangue no palco. Ninguém deu um soco na lata<br />

homofóbica <strong>do</strong> segurança. Ninguém fumou um basea<strong>do</strong> e acidentalmente pôs fogo no bar,<br />

inician<strong>do</strong> um tumulto que só encontraria paralelo com a invasão de Roma pelos bárbaros<br />

inician<strong>do</strong> a Baixa Idade Média.<br />

No excerto acima, é latente a tentativa de se deixar clara a concepção <strong>do</strong> repórter<br />

acerca <strong>do</strong> que seria uma pauta gonzo. No entanto, André Czarnobai, no já cita<strong>do</strong> editorial<br />

da terceira edição da IRD, afirma que “gonzo é um termo bastante flexível e pode ser<br />

associa<strong>do</strong> a uma grande variedade de manifestações: tu<strong>do</strong> que estiver totalmente fora <strong>do</strong>s<br />

padrões, for estranhamente chocante ou evidentemente bizarro é gonzo”. Essa<br />

indeterminação a respeito <strong>do</strong> conceito de gonzo-jornalismo permite à IRD abrigar uma<br />

diversidade de textos que divergem enormemente entre si, tanto no que tange às pautas, ao<br />

teor <strong>do</strong> “fato” jornalístico, quanto no que concerne à forma, ao tratamento da<strong>do</strong> à notícia.<br />

Isto pode ser percebi<strong>do</strong> na matéria FGTS: As Letras <strong>do</strong> Demônio 27 [ver anexo 4], de Paula<br />

Pó, que relata o processo de tentativa de resgate <strong>do</strong> benefício <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> de Garantia por<br />

Tempo de Serviço através de uma fabulação na qual a Caixa Econômica Federal é tida<br />

como um templo satânico que exige que o suplicante passe por sacrifícios e ritos de<br />

passagem antes de “vender sua alma” em troca de “consumo, sucesso e poder”.<br />

Eu achava que já sabia tu<strong>do</strong> sobre ocultismo até conhecer as assusta<strong>do</strong>ras letras: FGTS. São<br />

quatro inocentes sinais gráficos que ganham um poder demoníaco quan<strong>do</strong> juntos,<br />

comparável ao 666. [...] Só que enquanto o tal número da besta atrai as elites, eruditos,<br />

diretores de cinema e metaleiros, o FGTS manipula uma massa desdentada, quasímoda,<br />

sedenta por alguns centavos a mais nas suas contas bancárias. [...] Nossa peregrinação<br />

27 O título completo é FGTS: As Letras <strong>do</strong> Demônio ou Burocracia e Ocultismo de Pobre.<br />

63

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!