Delírio do Verbo: O Jornalismo Gonzo e a realidade ... - Flanador
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validação de um critério basea<strong>do</strong> numa corrente de pensamento que se mostrou incapaz de<br />
explicar o mun<strong>do</strong>? A anacrônica sublimação da objetividade não leva em conta o cenário<br />
hodierno da esfera comunicacional. O leque de explicações totalizantes e positivistas, tal<br />
como é insuficiente para abordar questões de cunho filosófico-científico, também se mostra<br />
incapaz de abrigar o “caos” <strong>do</strong> universo jornalístico, cuja disseminação é apontada por Ciro<br />
Marcondes Filho como baluarte da fragmentação de “versões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”:<br />
A expansão <strong>do</strong>s meios de comunicação, contribuin<strong>do</strong> para multiplicar ao infinito as versões<br />
sobre os fatos, as explicações, as “<strong>do</strong>tações de senti<strong>do</strong>”, decreta igualmente o fim da<br />
unidirecionalidade histórica. Com eles e as milhares de pulverizadas versões, o mun<strong>do</strong><br />
enche-se de mil histórias, mil interpretações, conflitantes, contraditórias, díspares,<br />
desconexas e não-lineares. Nessa situação, não há mais como sustentar a imposição<br />
(arbitrária) de uma única história (a ocidental, cristã, capitalista desenvolvida ou socialista).<br />
São todas ficções, tentativas vãs de “explicar” o caminhar sem destino da civilização<br />
(MARCONDES FILHO, 1993: 90).<br />
Percebe-se também que a defesa da objetividade, realizada no âmbito da<br />
abstração, desconhece o jornalismo “realmente existente”, de tal forma que, quan<strong>do</strong> diante<br />
da práxis <strong>do</strong> dia-a-dia, acabaria por desqualificá-la, consideran<strong>do</strong>-a como “não<br />
jornalística”. Colocan<strong>do</strong>-se como elemento media<strong>do</strong>r, o jornalista faz-se presente nas<br />
notícias que narra, “uma presença emblemática, que não se esgota na captação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s e<br />
redação de um texto, mas atravessa to<strong>do</strong> o processo de construção da notícia” (HENN,<br />
1996: 109-110). Nesses termos, “o jornalismo não é nem neutro nem objetivo”<br />
(MARCONDES FILHO, 1993: 130). Ten<strong>do</strong> esse panorama como base, pode-se dizer que a<br />
objetividade jornalística não existe de fato ou, pelo menos, é uma “meta-mito” (SILVA,<br />
1997: 25). Nas palavras de Emil Dovifat:<br />
Um jornal não pode ser “objetivamente verdadeiro”, mas apenas “subjetivamente<br />
verdadeiro”. Imagine-se o que seria de um jornal puramente “objetivo”. Ele se assemelharia<br />
a uma construção de fórmulas matemáticas e aluiria com o primeiro erro de cálculo; mais<br />
ainda, ninguém o leria (apud KUNCZIK, 2001: 226).<br />
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