Tese Mestrado - Tiago Macaia Martins.pdf - RUN
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para que se considere a justificação justa? <br />
Parece, de facto, haver uma ideia de justiça na imparcialidade. O princípio de se tratar <br />
todos por igual corresponde à já referida justiça distributiva. Se, por exemplo, um professor, <br />
diante de uma turma homogénea, estabelecer o mesmo castigo para todos os que, por <br />
desleixo, não tenham feito os trabalhos de casa, é relativamente justo, porque trata a todos <br />
por igual. <br />
No entanto, teríamos sempre de analisar se o castigo será efectivamente adequado, <br />
ou se a própria ideia de castigo é admissível, mesmo que a sua aplicação cumpra o requisito de <br />
ser totalmente imparcial. Não seria indiferente à justiça o castigo aplicado consistir em <br />
trabalhos de casa extra ou na pena de morte! <br />
Há, portanto, um lado absoluto na questão da justiça, que diz respeito à relação entre <br />
o que foi feito e o que se recebe 193 . Wolterstorff não é indiferente a esse lado, pelo menos <br />
numa primeira análise: “To all this must be added the fact that there's a question of justice <br />
concerning justification itself” 194 . <br />
No entanto, logo de seguida, fecha aparentemente a porta à continuação da discussão: <br />
“Nowhere [Paul takes] notice of Anselm's worry, that justification violates justice by foregoing <br />
punishment of the wrongdoer; quite clearly it was his view that foregoing punishment of the <br />
wrongdoer is not perforce a violation of justice” 195196 . <br />
Na mesma perspectiva, nega sem ambages um dos entendimentos teológicos <br />
tradicionais do fundamento da justificação: o de a morte substitutiva de Cristo em nosso favor <br />
constituir esse fundamento último: “If Christ paid the penalty for our sin on our behalf, then <br />
193<br />
194<br />
195<br />
Para além da relação entre o que cada um recebe, que é a questão abordada por Wolterstorff. <br />
Cf. Justice in Love, op. cit.,p. 245. <br />
Cf. Justice in Love, op. cit.,p. 245. <br />
196<br />
Chamamos a atenção para o facto de Wolterstorff não discutir qual o conceito de justiça <br />
paulino, se o hebraico, o grego, ou ainda outro distinto. Não cabe nesta dissertação comparar estes <br />
conceitos. Cumpre apenas dizer que o conceitos hebraicos traduzidos como justiça podem também ser <br />
traduzidos como misericórdia, ou favor (mispat) ou, por outro lado, como julgamento e condenação. Cf. <br />
VAZ, Armindo dos Santos, “Justiça e misericórdia na Bíblia hebraica”, in Didaskalia. 41:1, (2011), Lisboa, <br />
pp. 221-‐234; WHELAN, Frederick G., “Justice – Classical and Christian” in Political Theory, Vol. 10, No. 3 <br />
(Agosto, 1982), Sage Publications, Inc., pp. 435-‐460. Isto significa que não se pode propriamente dizer <br />
que Paulo não reparou no choque entre justiça e perdão sem uma cuidadosa análise do conceito paulino <br />
de justiça. <br />
93