Tese Mestrado - Tiago Macaia Martins.pdf - RUN
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devido responder? Mediante o princípio da justiça primária não será certamente, porque não <br />
estabelece, como vimos, qualquer relação entre o que faço e o que me é devido. <br />
Um conceito de justiça primária com pretensões de se tornar justiça em si traz consigo <br />
o perigo de transformar o indivíduo responsável num ser moralmente autista. O aparente <br />
refúgio inabalável do indivíduo torna-‐se numa prisão sem janelas, porque não há relação entre <br />
o mérito e a acção. <br />
Em resumo, as principais linhas de clivagem que se desenham na discussão das teses <br />
de Wolterstorff sobre a justiça são as seguintes: <br />
A questão da dependência do próprio conceito de justiça primária relativamente a um <br />
conceito nuclear de justiça, que as concepções de Wolterstorff deixam inexplícito, na <br />
penumbra; <br />
O facto de, em última análise ser esse conceito nuclear que decide as relações entre justiça <br />
primária e justiça correctiva, de tal forma que as diferentes tomadas de posição nesta <br />
última matéria resultam de diferenças quanto ao próprio conceito nuclear de justiça; <br />
A questão relativa à peculiar constelação de nexos em virtude da qual a justiça correctiva <br />
pressupõe, por um lado, a justiça primária – mas, por outro lado, tem uma carga própria, <br />
completamente irredutível à carga própria daquela; <br />
A questão relativa à dissociabilidade ou não-‐dissociabilidade entre justiça primária e justiça <br />
correctiva; <br />
A questão relativa à forma como as teses de Wolterstorff acabam por apontar para qualquer <br />
coisa como uma redução da justiça à justiça primária, que assim se confunde com a <br />
própria justiça, <br />
A questão relativa à tese de Wolterstorff segundo a qual o que está em causa na justiça <br />
primária são fundamentalmente direitos inerentes – tese que acaba por ter como <br />
consequência aquilo que podemos descrever como uma irrelevância das próprias acções <br />
na determinação do mérito (e, portanto, do debitum). <br />
Posto isto, analisemos agora a questão do perdão. <br />
3 -‐ O conceito de perdão <br />
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