10.01.2014 Views

Tese Mestrado - Tiago Macaia Martins.pdf - RUN

Tese Mestrado - Tiago Macaia Martins.pdf - RUN

Tese Mestrado - Tiago Macaia Martins.pdf - RUN

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

justificação reside num aspecto exterior (no sentido de “sem ligação”) ao acto <br />

praticado. À partida, não é claro em que elemento a clemência encontra fundamento, <br />

se na mitigação da responsabilidade, se na possibilidade de reforma, se em ambos. <br />

Noutro caso, por um lado parece levantar-­‐se a questão da imputabilidade (“foi <br />

enganado”, “foi o vinho que o perdeu”) e, por outro, têm-­‐se em conta o peso da <br />

consciência (“manifestamente consumido por horror ao seu crime”). Os elementos <br />

atenuantes (ter sido enganado, ou estar alcoolizado) remetem-­‐nos, novamente, para a <br />

questão da responsabilidade. Quem age por ter sido enganado, ou sem consciência <br />

clara do que está a fazer, é, em princípio, menos responsável (quer por um <br />

desencontro entre o poder de escolha e a realidade, quer por esse poder de escolha se <br />

encontrar toldado). O peso da consciência, por sua vez, está num plano totalmente <br />

distinto. À semelhança do exemplo anterior, não é claro se a fundamentação <br />

substancial está no peso de consciência, nos elementos atenuantes ou em ambos. <br />

Mantenhamos, por isso, todas as possibilidades em aberto. <br />

Por último, há ainda uma ordem de consideração relativa ao facto de o <br />

criminoso ter agido por causas nobres (ou seja, causas virtuosas). Neste caso, a <br />

responsabilidade pelo crime não é posta em causa. O que é posto em causa é o <br />

significado do crime. Por outras palavras, tem-­‐se em conta a motivação nobre que <br />

ditou o acto e em virtude da qual a punição deixa de ser devida. O princípio que parece <br />

estar subjacente é o de que uma acção virtuosa, ainda que se apresente como crime, <br />

não passa por isso a ser viciosa. <br />

Vimos que a apreciação dos actos tinha em comum o facto de se reportar a <br />

uma fundamentação, e que a diferença dizia respeito ao tipo de fundamentação. De <br />

qualquer modo, a função, ou a natureza, da fundamentação que Séneca apresenta nos <br />

diferentes casos parece convergir num conceito: o de “justificar” o acto de clemência <br />

pela consideração de outros factores para além da relação acto 62 -­‐punição. Parece <br />

então que Séneca conduz o raciocínio no sentido de afirmar que, nos seus actos de <br />

62<br />

Tenha-­‐se em consideração que utilizamos aqui o conceito de acto num sentido bastante <br />

restrito, quase fáctico, praticamente desligado das circunstâncias – da consciência, responsabilidade e <br />

motivação do autor, etc.. <br />

34

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!