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Tese Mestrado - Tiago Macaia Martins.pdf - RUN

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explicadas por um princípio comum a elas e à justiça, são fundamentadas na própria justiça: <br />

“ajuda-­‐me a reconhecer o que digo: és verdadeiramente misericordioso porque és justo”. <br />

Nesta perspectiva, o sentido mais próximo da expressão nulla tem que ver, não com uma <br />

complementaridade em razão de um princípio comum, mas com o carácter anterior da justiça <br />

relativamente à bondade, como se a bondade não tivesse lugar e não valesse nada sem a <br />

justiça – e isto precisamente porque “procede” dela e só nela nela ganha sentido! <br />

Mas a questão está em saber por que razão o discurso seguiu no sentido de afirmar <br />

que a bondade vem da justiça, pondo nela a “coroa”, e não o contrário – ou seja, fundando a <br />

justiça na bondade. Se a bondade, ou o amor, tem na fé cristã um carácter tão marcadamente <br />

central, por que razão S. Anselmo inverte todo o argumento para afirmar que a bondade vem <br />

da justiça, e não o inverso? <br />

levar. <br />

Resta-­‐nos continuar a seguir a linha argumentativa, e perceber onde nos pretende <br />

6 – Uma “nova” justiça? <br />

O poema da misericórdia inverte então a questão por completo. A pergunta: “como é <br />

que és misericordioso, se a misericórdia é injusta e Tu és justo?” foi respondida precisamente <br />

porque se passou a afirmar: “a misericórdia é justa”. Por outras palavras, a resposta à <br />

pergunta conseguiu-­‐se pela negação de uma das premissas: a de a misericórdia ser injusta. <br />

Essa negação, por sua vez, deu-­‐se por uma integração do conceito que à partida gerava o <br />

conflito – a bondade, através da misericórdia – no conceito aparentemente “estável”: a justiça. <br />

Como vimos anteriormente, o fundamento da justiça, o mérito, fora remetido para segundo <br />

plano para uma confrontação entre a justiça e a bondade. <br />

A viragem produzida no final do “poema da misericórdia” deixa “no ar” uma pergunta: <br />

como é que a justiça implica a misericórdia? Ou, dito de outro modo: se a bondade vem da <br />

justiça, então qual o princípio da justiça que está em causa – qual é o sentido de afirmar como <br />

justo – e decorrente da própria justiça -­‐-­‐ todo o âmbito da bondade? <br />

Logo após o poema da misericórdia, a voz do credere pergunta: “Não nasce a tua <br />

misericórdia da tua justiça? Não perdoas tu aos maus por justiça? Se é assim, Senhor, se é <br />

assim, ensina-­‐me como.” 111 Esta pergunta dá lugar a um novo desenvolvimento. A partir do <br />

111<br />

Cf. Proslogion, Cap. IX, “Ergone misericordia tua nascitur ex iustitia tua? Ergone parcis malis ex <br />

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