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Tese Mestrado - Tiago Macaia Martins.pdf - RUN

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pressuposto do próprio imperativo. Isto significa que a questão da justiça permanece em <br />

aberto. Se, de facto, existe um dever de perdoar o outro, esse dever tem de se reger por <br />

regras diferentes dos outros deveres. Pois, caso contrário, seria exigida a estrutura do direito <br />

correlativo. <br />

Por outro lado, Wolterstorff não faz qualquer observação quanto à relação entre a <br />

existência deste dever de caridade e os “retributive rights” do mesmo indivíduo, que <br />

considerámos a propósito do perdão. Mas parece haver uma contradição. Se, de facto, há um <br />

dever de perdoar, não pode haver um direito a “retribuir”, e vice-­‐versa. <br />

Em suma, o que Wolterstorff afirma é que, em regra, quando tenho um dever para <br />

com outro, esse outro possui o direito correlativo desse meu dever. Nessa relação, o outro <br />

pode exigir-­‐me que cumpra o que devo, por isso ser justo. No dever de caridade, apesar de eu <br />

dever prestar a caridade a outro, o meu dever é para com Deus, e assim tenho de agir para <br />

com ele, por isso ser justo. <br />

O que observamos é que há, neste caso, um salto injustificado. Parece que, na <br />

primeira relação, a justiça se estabelece entre os indivíduos e que, na segunda, se estabelece <br />

entre um deles e Deus. <br />

No dever de caridade, ironicamente, vemos Wolterstorff introduzir Deus como um <br />

deus ex machina que irrompe num caos de deveres e direitos desencontrados. Mas, nessa <br />

tentativa, em vez de uma resposta, ficamos com mais perguntas. <br />

Já vimos que Wolterstorff não apresenta uma resposta para o problema de esclarecer <br />

a relação entre os “retributive rights” e os deveres de caridade. Por outro lado, também vimos <br />

que a entrada de Deus para garantir o princípio dos correlativos não resolve a questão da <br />

relação que dá origem ao dever de perdão. Por fim, se é justo que eu perdoe outra pessoa, por <br />

responder ao mandamento do que me perdoou primeiro, então como é que o perdão de Deus <br />

é justo, tendo sido Ele o primeiro a perdoar? <br />

Conclusão -­‐ Entre a Natureza e a Vontade <br />

Começámos por analisar a distinção que Wolterstorff faz entre as duas faces da justiça. <br />

Nessa análise, deparámo-­‐nos com uma justiça primária a ocupar quase na totalidade o lugar <br />

da justiça em si, e com uma justiça correctiva assente na vontade. Esta construção incide no <br />

problema do perdão e no da justificação, de tal forma que tanto poderia ser justo perdoar <br />

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