Tese Mestrado - Tiago Macaia Martins.pdf - RUN
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levantadas por Wolterstorff a propósito da relação entre o perdão e a justiça. Teremos em <br />
consideração apenas aquelas que, no nosso entender, são decisivas para perceber a <br />
especificidade da concepção que propõe e formular um juízo sobre os seus fundamentos. <br />
Wrongs: <br />
Como ponto de partida para a reflexão, citamos uma passagem de Justice – Rights and <br />
“Forgiveness can occur only in the objective context of the agent having a right that has been violated <br />
and acquiring retributive rights on that account, and in the conceptual and epistemic context of the <br />
agent recognizing that she has been wronged and that she has thereby acquired retributive rights. <br />
Justice-‐blind love cannot forgive. One cannot preserve the thought and reality of forgiveness while <br />
abolishing the thought and reality of justice. If justice were a bad idea for Christians, forgiveness would <br />
have to be a bad idea for Christians. But forgiveness is at the heart of the moral vision of Christianity, so <br />
justice has to be there too.” 131<br />
O contexto do passo citado é a crítica à visão do teólogo Anders Nygren sobre o <br />
conceito de amor. Segundo Nygren 132 , o amor (agape) de Deus 133 é indiferente à justiça (justice <br />
blind), o que é paradigmaticamente expresso na ideia de Deus perdoar o pecador 134 . A <br />
resposta de Wolterstorff foca-‐se precisamente na questão do perdão: “justice blind love <br />
cannot forgive”. Esta afirmação, aparentemente simples, é basilar na análise da relação entre <br />
o perdão e a justiça. <br />
Como podemos ler no passo citado, Wolterstorff afirma que o conceito de perdão <br />
implica necessariamente o de justiça. A característica do perdão que o autor identifica para <br />
chegar a esta conclusão é o facto de só haver lugar ao perdão quando alguém tenha sido <br />
131<br />
Justice, op. cit.,p.107. <br />
132<br />
A obra em causa é NYGREN, Anders, Agape and Eros, Translated by Philip S. Watson, London, <br />
SPCK, 1953. <br />
133<br />
Wolterstorff afirma que Nygren não distingue a agape entre Deus e o homem da agape entre <br />
os homens. Cf. Justice, op. cit., p. <br />
134<br />
Parafraseámos a análise de Wolterstorff. Cf. Justice, op. cit., p. 105. Nygren afirma que a agape <br />
é “unmotivated” e “indifferent to value”; cf. Agape and Eros, op. cit., pp. 75 e ss.. Não cabe neste estudo <br />
uma análise que ponha em confronto a visão de Wolterstorff e a de Nygren. Há, no entanto, um aspecto <br />
essencial da perspectiva de Nygren que Wolterstorff não parece considerar: a distinção que aquele <br />
autor faz, a propósito de a agape ser “unmotivated”, entre arbitrariedade e a ausência de “extrinsic <br />
grounds”. Nygren não parece sugerir que a agape não possa conviver com outros motivos em si, mas <br />
sim que estes motivos nunca são extrínsecos à própria ágape – que esta é sempre o motivo último e <br />
injustificado. Cf. NYGREN, Agape and Eros, op. cit., pp. 75-‐77. <br />
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