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Tese Mestrado - Tiago Macaia Martins.pdf - RUN

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No capítulo 17 de Justice, Wolterstorff discute se se pode conceber a noção de “duties <br />

of charity”. Por dever 208 de caridade, o autor entende “a [moral] 209 duty to treat someone <br />

beneficently when that person does not have a right against one to such treatment.” 210 . <br />

Paradigmático de um dever de caridade é o dever de perdoar: “De facto, se perdoarem aos <br />

outros as suas ofensas, o vosso Pai celestial também vos perdoará. Mas se não perdoarem aos <br />

outros, o vosso Pai também vos não perdoará.»” 211 . <br />

À primeira vista, não se está a discutir se estes deveres são justos ou injustos. O <br />

objectivo do autor parece ser o de determinar se é possível conceber um dever com aquelas <br />

características. <br />

No ponto de partida da análise está o princípio dos correlativos, “If Y belongs to the <br />

sort of entity that can have rights, then X has an obligation toward Y to do or refrain from <br />

doing A if and only if Y has a right against X to X’s doing or refraining from doing A.” 212 . No que <br />

diz respeito ao assunto em análise, se eu tenho um dever de caridade para com Y, então Y <br />

teria necessariamente um direito correspondente para comigo, o de exigir a minha caridade. <br />

Desde logo se adivinha uma contradição: se todos os deveres têm, por definição, um <br />

direito correspondente na outra parte, como se poderá conceber um dever que, também por <br />

definição, exclui aquele mesmo direito? <br />

Antes de prosseguirmos a discussão, importa salientar neste ponto que não é <br />

simplesmente o princípio dos correlativos que está em causa, mas a própria justiça do caso. A <br />

teoria da justiça (primária) de Wolterstorff assenta, como vimos, em direitos. Ora, sendo <br />

assim, vemos que a estrutura correlativa direito-­‐dever está intrinsecamente ligada à teoria de <br />

Wolterstorff. Se todos os deveres têm um direito correspondente, a inexistência de um direito <br />

208<br />

209<br />

Utilizaremos as palavras dever e obrigação como sinónimos. <br />

O facto de este dever ser entendido num plano moral está subentendido no texto. <br />

210<br />

Justice, op. cit.,p.260. Wolterstorff reformula ligeiramente a noção na p.383: <br />

<br />

<br />

<br />

211<br />

Cf. Mateus 6:14 e 15 e Justice, p. 383. Ao longo desta discussão, concentrar-­‐nos-­‐emos no dever <br />

de perdoar. <br />

212<br />

Justice, op. cit.,p. 34. O princípio dos correlativos é defendido pelo autor na Introdução (p.8) e <br />

no Capítulo 1 (pp. 34-­‐35) de Justice, assim como no Capítulo 7 (pp.87-­‐88) de Justice in Love. <br />

96

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