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Tese Mestrado - Tiago Macaia Martins.pdf - RUN

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como euporia ou solução, corre o risco de vir a ser descoberto como insuficiente. 3<br />

Na verdade, mesmo no que diz respeito à aporia, o percurso que aqui nos <br />

propomos fazer cobre apenas uma parte (e até mesmo só uma pequena parte) do que <br />

noutras circunstâncias poderia e deveria ser levado em consideração. 4 É claro que este <br />

carácter ainda puramente fragmentário representa um risco e abre a porta à <br />

possibilidade de haver aspectos importantes (e mesmo absolutamente essenciais) que <br />

ficam de fora. Dadas as condições, parece, porém, inevitável assumir este risco. Tanto <br />

mais que a alternativa implicaria o risco não menor de que o aumento da “área de <br />

exploração” (que acabaria por implicar qualquer coisa como a proverbial tentativa de <br />

“meter o Rossio na Betesga”) se fizesse à custa de um sacrifício da acuidade. <br />

Mas há ainda um outro aspecto que à partida importa vincar tão enfaticamente <br />

quanto possível. Dada a natureza da indagação que aqui se leva a cabo, a tónica fica <br />

posta no negativo – na dificuldade (no que não é claro). Como dissemos, trata-­‐se de <br />

um percurso do nó (do desmos: daquilo que prende). E o facto de nos alongarmos nele <br />

pode sugerir que há qualquer coisa como uma tese negativa – a tese de que o <br />

problema em causa pura e simplesmente não tem solução, etc. Ora, não é assim – não <br />

pretendemos sugerir nada disso. O facto de haver um “nó”, no sentido de Aristóteles, <br />

e de o “nó” se revelar complexo e intrincado, não significa necessariamente que seja <br />

essa a última palavra sobre a matéria. <br />

3<br />

Referimo-nos ao início do livro B da Metaphysica, onde Aristóteles sublinha o papel<br />

decisivo do conhecimento das aporias ou das dificuldades. Cf. Aristotle in Twenty-Three<br />

Volumes, XVII, The Metaphysics, Books I-X, Hugh Tredennick (transl), Cambridge (Mass.),<br />

Harvard University Press/London, William Heinemann, 1933 (reimpr.1975), 995a24ss.<br />

Aristóteles compara as dificuldades ou aporias a qualquer coisa como um estar amarrado, que<br />

impede de alcançar – e de que só se consegue sair compreendendo bem aquilo que prende,<br />

ou seja, o(s) nó(s) que retém(êm), para os conseguir desfazer eficazmente. Ou seja, Aristóteles<br />

chama a atenção para o facto de a solução do(s) nós(s) não ser possível sem um percurso<br />

dele(s): o euporêsai não é possível sem um percurso adequado da própria aporia – sem um<br />

diaporêsai kalôs. Percebe-se que o que está em causa é o seguinte: o desconhecimento dos<br />

meandros da dificuldade faz que aquilo que aparece como solução possa deixar ainda por<br />

ultrapassar uma parte da dificuldade, continue preso a ela – e, portanto, não seja uma<br />

verdadeira solução.<br />

4<br />

Por exemplo (e para citar só um caso), não nos debruçamos sobre a análise do<br />

problema da pena (da sua transformação no “mundo ao contrário”, etc.) tal como se desenha<br />

na Fenomenologia do Espírito e em outros escritos de Hegel.<br />

6

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