10.01.2014 Views

Tese Mestrado - Tiago Macaia Martins.pdf - RUN

Tese Mestrado - Tiago Macaia Martins.pdf - RUN

Tese Mestrado - Tiago Macaia Martins.pdf - RUN

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Este último direito já parece sair da esfera da justiça primária, porque só está em causa <br />

quando há algo a retribuir. Wolterstorff afirma ser um direito de exercício facultativo: <br />

“retributive rights are in general permission-­‐rights rather than claim-­‐rights.[…] I am permitted <br />

to be angry with the person who wronged me and to see to it that hard treatment is imposed <br />

on him; but it may well be that I am not obligated to do so—that nobody is wronged if it does <br />

not happen.” 163<br />

Na continuação da sua análise, Wolterstorff acrescenta ainda que há um claiming-­‐right <br />

correspondente ao direito retributivo: “corresponding to the permission-­‐right to impose hard <br />

treatment on the one who has wronged one will often be the claim-­‐right to be free to do <br />

so.” 164<br />

Analisemos apenas o direito retributivo, que, segundo Wolterstorff, é um permission-­right<br />

165 . Na justiça primária, como vimos, o que é devido ao indivíduo (ou seja, o que merece) <br />

corresponde ao seu valor inerente. Mas, segundo Wolterstorff, no caso da justiça correctiva, o <br />

que é devido ao indivíduo (ou seja, a quem tratou injustamente um outro) – sc. o que é devido <br />

ao lesado – não está, por regra, definido: é deixado nas mãos do lesado, que decide punir ou <br />

não punir 166 . <br />

Ora, significará isto que, na prática, e mediante a decisão do lesado na mesma <br />

circunstância, tanto a punição como a não punição poderão ser igualmente justas? Para <br />

com o autor ou autores disso que nos é feito. <br />

163<br />

Justice: Rights and Wrongs, op. cit.,p.26. Na mesma página, refere-­‐se ainda que “special <br />

circumstances may make the exercise of retributive rights obligatory”, mas não esclarece que <br />

circunstâncias especiais serão essas. Supomos que Wolterstorff estará a pensar em casos como os <br />

daqueles crimes em que, ainda que o lesado se oponha à pena, ela terá lugar, como acontece nos <br />

crimes públicos, e como pode acontecer nos crimes privados. No entanto, nesta situação, parece-­‐nos <br />

que nenhuma premissa muda. O que nos parece acontecer é que o conceito de lesado se estende para <br />

lá de quem foi, v.g., ferido – de sorte que inclui também a própria comunidade/Estado/grupo alargado <br />

de pessoas foi lesado. Neste sentido, o lesado em sentido estrito não tem legitimidade para suspender <br />

ou cancelar a pena. <br />

164<br />

Justice: Rights and Wrongs, op. cit.,p.26. <br />

165<br />

Não discutiremos a fundo se estão em causa dois direitos distintos (o permission-­‐right e o <br />

claim-­‐right), ou apenas um. Diga-­‐se apenas que, se há um direito de permissão de algo, estará <br />

provavelmente implicado na sua própria estrutura a possibilidade de não o exercer. Caso contrário, não <br />

seria um direito de permissão, seria uma obrigação. <br />

166<br />

Para além do problema que fica em aberto, o de saber de que forma esta justiça correctiva face <br />

ao ofensor se articula com a justiça primária que é devida ao próprio ofensor. <br />

87

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!