Tese Mestrado - Tiago Macaia Martins.pdf - RUN
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incompatível com todas as perspectivas anteriormente propostas por Séneca, como <br />
fugiria ao próprio princípio programático do De Clementia que, como vimos, pretende <br />
“libertar-‐nos de fórmulas”. <br />
Há, portanto, aqui qualquer coisa que “não bate certo”. A questão está em <br />
saber o quê. <br />
Uma vez descartada a hipótese de a questão ser puramente nominal (isto é, de <br />
a clemência ser apenas um perdão disfarçado, um perdão arvorado ou um conceito <br />
contraditório, que tira com uma mão aquilo que põe com outra), resta-‐nos uma outra <br />
hipótese: a de distinguir entre o conceito de “devido” presente na definição de <br />
clemência, e o que aparece na definição de perdão. Partimos, então, do princípio que <br />
o núcleo de coincidência entre a descrição que Séneca faz da clemência e do perdão, <br />
as afirmações que produz sobre a diferença entre ambos – ou a contradição que <br />
parece haver entre os seus vários enunciados a respeito da clemência <br />
(designadamente, entre aqueles segundo os quais a clemência se desvia do debitum e <br />
aqueles outros que, pelo contrário, afirmam que ela corresponde ao debitum) – não <br />
têm que ver com uma contradição real, antes supõem qualquer coisa como uma <br />
distinção implícita. Por outras palavras, levantamos a hipótese de esta contradição <br />
óbvia ser o véu para o fundamento da distinção. <br />
Para esclarecer este ponto, analisamos agora as razões que Séneca apresenta <br />
para “justificar” os actos de clemência. <br />
4-‐ Em busca do fundamento <br />
a) As “obras da clemência” <br />
Ao expor a distinção entre o perdão e a clemência, Séneca dá exemplos de <br />
actos que o sábio praticará, “semelhantes” ao perdão, e diz a seu respeito: “Nada disto <br />
é obra do perdão, mas sim da clemência” 58 . Passemos a analisar estes exemplos. <br />
58<br />
Cf. 2.7.3, “haec omnia non ueniae, sed clementiae opera sunt”. <br />
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