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DIARIO DA CAMARA DOS DEPUTADOS - Câmara dos Deputados

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11176 Quinta-feira 25 DIÁRIO <strong>DA</strong> cÂMARA <strong>DOS</strong> DEPUTA<strong>DOS</strong> Abril de 1996<br />

das -por vinte anos. A legislação permitia, entretanto,<br />

uma brecha: os Esta<strong>dos</strong> comprometeriam apenas<br />

9% das receitas líquidas (o limite seria aumentado<br />

mais tarde para 11 %) com o pagamento do serviço<br />

da dívida. O que excedesse esse limite seria deixado<br />

para um futuro acerto nos dez anos posteriores.<br />

E a diferença entre o que recebe <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong><br />

e as obrigações junto a credores externos e bancos<br />

federais foi um ônus para o Tesouro Nacional. Mas<br />

são os outros três blocos de dívidas que constituem<br />

o grande problema, em decorrência do rápido crescimento:<br />

- os empréstimos toma<strong>dos</strong> junto a bancos comerciais<br />

controla<strong>dos</strong> pelos Esta<strong>dos</strong>;<br />

- a dívida de emissão de título <strong>dos</strong> Tesouros<br />

Estaduais; e<br />

- a chamada dívida flutuante, que consiste em<br />

uma série de expedientes que permitem aos Esta<strong>dos</strong><br />

fugir do controle do Governo Federal.·-··<br />

A dívida financiada por títulos é dominada pelos<br />

Esta<strong>dos</strong> mais ricos (MG, SP, RS). Os papéis são<br />

subscritos pelos bancos comerciais e vendi<strong>dos</strong> a<br />

bancos priva<strong>dos</strong> e investidores.<br />

Em 1995, os bancos priva<strong>dos</strong> começaram a<br />

evitar o carregamento desses papéis, e a saída foi o<br />

Governo Federal. Os papéis <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> ficaram na<br />

Carteira do Banco Central que os trocou por Letras<br />

Série Especial, facilmente aceitas pelo mercado e a<br />

taxas mais baixas que as do risco do Governo Estadual.<br />

O terceiro bloco é composto, entre outros, de<br />

atrasos de pagamento a fornecedores e ao funcionalismo,<br />

que acabam sendo uma maneira para financiar<br />

o déficit. Uma forma comum de endividamento<br />

está nas obras públicas, onde as empreiteiras tomam<br />

financiamento junto ao banco, e o Estado se<br />

compromete a pagar à empresa o serviço da dívida.<br />

Como o Estado não é confiável, ela infla os preços<br />

da obra para neutralizar o risco adicional.<br />

Medidas têm sido tomadas pelo Banco Central<br />

com o intuito de combater este endividamento crescente,<br />

tais como, proibição ao Estado de captar recursos<br />

de seu próprio banco e restrições à renovação<br />

de créditos por bancos priva<strong>dos</strong>, limitação de<br />

novas emissões de títulos da dívida estadual, exceto<br />

para pagamento de decisões judiciais, etc.<br />

Medidas sem sucesso por não tratarem do<br />

crescimento do estoque da dívida com a capitalização<br />

<strong>dos</strong> juros vincen<strong>dos</strong> e com os bancos estaduais;<br />

e por terem deixado brechas que permitem os Esta<strong>dos</strong><br />

endividar-se tão logo a crise imediata estiver superada.<br />

O estudo do Banco Mundial recomendou mudanças<br />

estruturais na gestão <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> e no<br />

acesso ao crédito e a interrupção do crescimento do<br />

estoque das dívidas, o que implica cortes profun<strong>dos</strong><br />

de gastos com investimentos, pessoal e subsídios,<br />

reforma administrativa, previdenciária e o estabelecimento<br />

de uma âncora fiscal: só gastar o que se arrecada.<br />

Mas se os Esta<strong>dos</strong> se endividaram descontroladamente<br />

e estouraram os Orçamentos, a União<br />

não ficou atrás. As despesas com o funcionalismo<br />

público se aproximam de R$40 bilhões em 1995, os<br />

gastos com os benefícios da Previdência Social aumentaram<br />

30% em termos reais com relação a 1994<br />

e as despesas com juros aumentaram 49%. O saldo<br />

da dívida mobiliária federal subiu de R$65,5 bilhões<br />

em 1994 para R$108,58 bilhões em dezembro de<br />

1995, déficit gerado pelo déficit de caixa do Tesouro<br />

Nacional e as altas taxas de juros. As receitas contabilizadas<br />

no caixa do Tesouro somaram R$90,789<br />

bilhões e as despesas R$94,878 bilhões.<br />

Outro fator de endividamento do Governo Federal<br />

é a manutenção de privilégios, em contradição<br />

com o pressuposto da economia liberal, que estabelece<br />

a igualdade de condições para que os agentes<br />

econômicos concretizem seus projetos e os desenvolvam.<br />

O acordo do Banespa é um exemplo da generosidade<br />

do Govemo da União com alguns parceiros.<br />

Sobre uma dívida de R$7,5 bilhões serão cobra<strong>dos</strong><br />

do Governo de São Paulo juros de 6% ao ano,<br />

enquanto o Tesouro (o contribuinte) capta esses re­<br />

CllrsOS pagando taxas de aproximadamente 35% em<br />

média ao ano.<br />

Somando isto aos R$7 bilhões da troca das dívidas<br />

<strong>dos</strong> agricultores com os bancos, aos R$2 bilhões<br />

para as dívidas estatais do Banco do Brasil,<br />

aos R$2 bilhões do débito da Marinha Mercante<br />

com os bancos sem falar nos R$5,6 bilhões utiliza<strong>dos</strong><br />

na compra do Nacional pelo Unibanco, temos<br />

um festival de gastos 'que nada têm a ver com a filosofia<br />

liberal e muito contribuem para o atraso do<br />

País.<br />

Devo frisar aqui também que a avalancha do<br />

capital especulativo, atraído pelos juros de agiotagem,<br />

elevou nossas reservas monetárias para<br />

US$50 bilhões, mas teve conseqüências negativas,<br />

sobre a dívida mobiliária federal, uma vez que todo o<br />

dinheiro que entra na economia precisa ser enxugado<br />

para não pressionar a base monetária e isto é feito<br />

com a emissão de novos títulos.

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