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DIARIO DA CAMARA DOS DEPUTADOS - Câmara dos Deputados

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Abril de 1996 DIÁRIO <strong>DA</strong> CÂMARA <strong>DOS</strong> DEPUTA<strong>DOS</strong> Quinta-feira 25 I I189<br />

do à solicitação com balas. Os trabalhadores encon- vistas na13 grandes ditaduras. Com um saldo de 55<br />

traram um grupo de policiais predetermina<strong>dos</strong> a exe- trabalhadores rurais mortos em conflitos agrários,<br />

cutarem uma chacina. Tanto é verdade, que agora nenhum governo do Primeiro Mundo sentiria orgulho<br />

surge a informação sobre a existência de uma lista de governar um País. Hoje, Eldorado <strong>dos</strong> Carajás;<br />

com os nomes <strong>dos</strong> líderes sem terra marca<strong>dos</strong> para ontem, Corumbiara, Candelária, Vigário Geral; amamorrer.<br />

nhã, diante de mais um descaso, teremos o sangue<br />

Não fosse esta a intenção, estes policiais, do trabalhador jorrando <strong>dos</strong> garimpos de Serra Pelaprofissionais<br />

pagos para obedecer a ordens supe- da e das centenas de assentamentos.<br />

riores, não se teriam dirigido ao local fortemente Indignação neste momento é pouco. As mentiarma<strong>dos</strong><br />

com fuzis e metralhadoras e sem identifi- ras, o descaso e a falta de um mínimo de sensibilicação,<br />

o que é proibido na corporação da Polícia dade deste Governo moderno provocaram esta tra-<br />

Militar.<br />

gédia prevista por to<strong>dos</strong> que pertencem a um país<br />

Não fosse esta a intenção, estes profissionais, do Terceiro Mundo e que conhecem as angústias de<br />

treina<strong>dos</strong> para manter a segurança, não teriam at:ra- um trabalhador. Inaceitável e injustificável é que os<br />

do à queima-roupa em mulheres, crianças e líderes 4,8 milhões de famílias sem terra que estão espede<br />

trabalhadores.<br />

rando ser assentadas, além de não terem o que co-<br />

Foram seres humanos indefesos, que tocaia- mer, tenham que chorar seus mortos pela polícia de<br />

<strong>dos</strong> como animais foram espanca<strong>dos</strong>, executa<strong>dos</strong> e um Governo demagógico e irresponsável.<br />

mutila<strong>dos</strong> pelos oficiais da PM, Coronel Mário Cola- O Presidente da República alega ser inadmisres<br />

Pantoja, Major Oliveira e seus subordina<strong>dos</strong>. sível que esteja havendo exploração política <strong>dos</strong> fa-<br />

Nos diversos depoimentos que colhi, ao longo tos. Ora, Sr. Presidente, srªs e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, o<br />

da viagem que fiz à área de conflito, no último dia próprio representante da Procuradoria da República,<br />

19, o que mais me chocou foi o relato da execução durante a audiência realizada ontem pela Comissão<br />

do líder <strong>dos</strong> sem terra, Oziel Pereira Silva. O teste- de Direitos Humanos, diz estar convicto que, além<br />

munho de várias pessoas que presenciaram o mas- <strong>dos</strong> 19 mortos já sepulta<strong>dos</strong>, houve desova de ousacre<br />

apontam o Major Oliveira como autor desta tros cadáveres, para minimizar o horror <strong>dos</strong> acontemorte<br />

bárbara. O líder do MST, um garoto de ape- cimentos. Na audiência, o médico-legista Nelson<br />

nas 18 anos, foi preso, espancado, arrastado para Massini confirmou que 10 <strong>dos</strong> 19 mortos foram exeo<br />

mato e morto com to<strong>dos</strong> os requintes de cruelda- cuta<strong>dos</strong> depois de domina<strong>dos</strong>, sendo sete com insde.<br />

trumentos cortantes e três com tiros a queima-roupa.<br />

Estes oficiais, conheci<strong>dos</strong> por sua violência e Isto não só é inadmissível, mas criminoso e vergoavessos<br />

ao cumprimento das leis, dizem agora que nhoso.<br />

nada mais fizeram do que cumprir ordens de seu Não descansaremos enquanto os criminosos<br />

Governador. Os policiais que empunharam as me- responsáveis por mais este massacre de trabalhadotralhadoras<br />

nada mais fizeram do que cumprir or- res inocentes não forem presos e julga<strong>dos</strong> pelos cridens<br />

de seus comandantes, e a teia vai se formando mes que cometeram.<br />

como em todas as outras situações onde trabalha- Exigimos que os compromissos assumi<strong>dos</strong><br />

dores foram assassina<strong>dos</strong> por supostos responsá- com os trabalhadores sejam cumpri<strong>dos</strong>. Que a reforveis<br />

pela segurança pública.<br />

ma agrária e o assentamento de trabalhadores ru-<br />

Exigimos esclarecimentos <strong>dos</strong> fatos e a prisão rais sem-terra entre na pauta de prioridades e não<br />

imediata não somente destes dois oficiais já identifi- de tapeações do Executivo.<br />

ca<strong>dos</strong>, mas também a punição de to<strong>dos</strong> os envolvi- Era o que tinha a dizer.<br />

<strong>dos</strong> na chacina. Queremos respostas já para todas O SR. CIRO NOGUEIRA (Bloco/PFL - PI. Proas<br />

perguntas que após sete dias do massacre per- nuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, srªs e<br />

manecem sem respostas.<br />

Srs. Deputa<strong>dos</strong>, a sociedade brasileira tem sido sub-<br />

Esta tragédia não é a primeira deste Governo. metida a toda uma série de abusos por parte de al-<br />

Em um Relatório da Comissão Pastoral da Terra es- guns espertalhões, que vivem em busca de :formas<br />

tão catalogadas 32 chacinas no País, com morte de de enriquecer rapidamente sem fazer muito esforço.<br />

197 pessoas. Somente no Pará (que aparece no re- A situação é mais terrível porque estes exploradores<br />

latório como recordista em crimes no campo) foram da boa-fé do povo utilizam-se de um serviço público<br />

87 mortos, incluindo os de Eldorado <strong>dos</strong> Carajás. Os para tanto.<br />

massacres a trabalhadores atingem proporções só Estamos falando da enorme proliferação, a que

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