DIARIO DA CAMARA DOS DEPUTADOS - Câmara dos Deputados
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11174 Quinta-feira 25 DIÁRIO <strong>DA</strong> CÂMARA OOS DEPUTAOOS Abril de 1996<br />
Há também que se enfrentar a questão da ter- A responsabilidade política e social, ética e hura,<br />
sabendo-se que to<strong>dos</strong> os países que se desen- mana <strong>dos</strong> Poderes Executivo, Judiciário e Legislativolveram<br />
ou estão se desenvolvendo no mundo - vo é incontestável. E o primeiro responsável é o pre<strong>dos</strong><br />
Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> no século passado aos tigres sidente da República, que se elegeu prometendo coasiáticos<br />
de hoje - fizeram algum tipo de reforma locar a justiça social e a questão da reforma agrária<br />
agrária.<br />
como prioridades em seu governo.<br />
Já passa da hora de resgatar a dívida social. A reforma agrária depende do governo federal<br />
Ou se começa a fazê-lo já ou o país estará condena- e de sua maioria no Congresso Nacional, pau para<br />
do a ouvir, a cada posse presidencial, o lamento: toda obra, menos para fazer justiça social.<br />
Falta justiça social. Na ausência de ações, o lamen- Desde setembro do ano passado, após o masto<br />
v~i se transformar na deplorável certeza de que o sacre de Corumbiara, o Fórum da Reforma Agrária<br />
país se dividirá em duas partes irreconciliáveis: uma, vem exigindo do governo FHC medidas simples e<br />
capaz de engajar-se no processo de globalização, e, objetivas para realizar a reforma agrária: recursos,<br />
outra, excluída até <strong>dos</strong> requisitos mínimos de cida- desapropriaçõas, assentamentos e apoio técnico e<br />
dania em sua própria pátria.<br />
financeiro.<br />
O SR. JOSÉ PIMENTEL (PT - CE. Sem "reví:<br />
Os meios legais já estão no Congresso. São os<br />
são do orador.) - Sr. Presidente, srªs e Srs. Deputa- projetos de lei sobre rito sumário e despejo, além<br />
<strong>dos</strong>, desejo apenas solicitar que seja transcrito nos das leis visando acabar com a impunidade das Polí-<br />
Anais da Casa artigo de autoria do ex-Deputado Fe- cias Militares.<br />
deral e atual Presidente do Partido <strong>dos</strong> Trabalhadores,<br />
José Dirceu, intitulado Eldorado, terra sem justi- Os recursos para a reforma agrária também foça,<br />
publicado no jornal Folha de S. Paulo em que ram previstos para o orçamento de 96. Mas o goveranalisa<br />
o ocorrido em Eldorado <strong>dos</strong> Carajás e traz no FHC não apoiou a tramitação desses projetos de<br />
uma série de da<strong>dos</strong> para que esta Nação efetivamente lei, seu ministro da Justiça não priorizou a punição<br />
nunca mais venha a assistir a fato semelhante. <strong>dos</strong> responsáveis pelo massacre de Corumbiara e,<br />
• pior, os recursos orçamentários para a reforma agrária<br />
foram corta<strong>dos</strong> de R$6 bilhões para R$1,2 bilhão.<br />
ARTIGO A QUE SE REFERE O ORA<br />
DOR:<br />
ELDORADO, TERRA SEM JUSTiÇA<br />
Venho de Eldorado <strong>dos</strong> Carajás com o cheiro<br />
da morte. Com a alma.vazia e amargurada. Nunca vi<br />
tanto terror, desespero e angústia. Mas, para meu<br />
espanto, não encontrei ódio. Apenas a revolta de<br />
trabalhadores querendo o atendimento de seu direito<br />
à terra.<br />
A impunidade é onipresente e onipotente. Revela-se<br />
por meio do poder de vida e morte da Polícia<br />
Militar do Pará e do latifúndio.<br />
Não existe Justiça, governo ou Parlamento.<br />
Muito menos presidente da República. Apenas a pistolagem<br />
bandida e a oficial. O latifúndio manda na<br />
polícia, na Justiça e no governo.<br />
O pior é que o Brasil é apenas uma versão ampliada<br />
de Eldorado. Com Vigário Geral, Carandiru e<br />
Candelária. To<strong>dos</strong> massacres igualmente impunes,<br />
como Corumbiara, que não resultaram em reforma<br />
agrária ou punição <strong>dos</strong> assassinos farda<strong>dos</strong> e do latifúndio.<br />
Pelo contrário, serviu para que se tentasse a<br />
incriminação do MST, sua deslegitimação e para<br />
que o governo FHC fizesse propaganda de que estava<br />
fazendo reforma agrária.<br />
O descaso do governo FHC não parou aí. Após<br />
a demissão de Francisco Graziano, no também impune<br />
episódio da escuta telefônica do chefe do cerimonial<br />
do presidente FHC, o Incra ficou seis meses<br />
sem presidente. Com todo esse desleixo, FHC não<br />
pode deixar de ser responsabilizado.<br />
A luta pela reforma agrária revela que nossa<br />
polícia e nossa Justiça representam classes, estão<br />
supordinadas ao latifúndio. Que a bancada parlamentar<br />
ruralista-latifundiária domina e chantageia<br />
não só o governo e o Congresso, mas o país.<br />
Revela que as Polícias Militares não podem<br />
continuar existindo com seu poder ilimitado, inconstitucional,<br />
sua violência desmedida, sua impunidade,<br />
agindo como polícia política, fazendo espionagem,<br />
infiltrando-se nos movimentos políticos e sociais,<br />
como fez o Serviço Reservado da PM do Pará. Espionou,<br />
identificou e ordenou a execução <strong>dos</strong> líderes<br />
<strong>dos</strong> sem-terra.<br />
Além de acabar com os serviços reserva<strong>dos</strong> da<br />
PM é preciso iniciar uma mudança constitucional<br />
para estadualizar, desmilitarizar e unificar as polícias<br />
no Brasil, pondo fim ao fórum privilegiado de que gozam<br />
e acabando com essa herança maldita da época<br />
ditatorial.