DIARIO DA CAMARA DOS DEPUTADOS - Câmara dos Deputados
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Abril de 1996<br />
DIÁRIO <strong>DA</strong> CÂMARA <strong>DOS</strong> DEPUTAPOS<br />
-, enquanto na indústria foram fechadas 21 mil vagas;<br />
no total, 89 mil vagas foram fechadas. Do total<br />
de assalaria<strong>dos</strong>, 47,6% cumprem jornadas superiores<br />
a 44 horas semanais. No entanto, na média,<br />
segundo essa mesma fonte, para esse mesmo mês,<br />
o salário de ingresso subiu 3,14%. Como explicar<br />
esse aparente paradoxo: o aumento do desemprego<br />
e, ao mesmo tempo, o aumento do salário médio de<br />
ingresso?<br />
Vamos discutir a base mesma do ajuste de<br />
economias como a nossa ao novo ciclo: os que conseguem<br />
emprego - e foram "11 mil novos emprega<strong>dos</strong>,<br />
enquanto 89 mil passaram a ser desemprega<strong>dos</strong><br />
- têm maior qualificação e, portanto, recebem<br />
salários maiores do que recebiam aqueles que foram<br />
demiti<strong>dos</strong>.<br />
Solicito a paciência de V. Exªs para voltarmos<br />
mais tarde à relação entre aumento de emprego ou<br />
aumento de desemprego e qualificação.<br />
Da maior tendência ao fechamento de vagas<br />
resulta o que, na opinião <strong>dos</strong> brasileiros, conforme<br />
pesquisa realizada no final de 1995, é o maior problema<br />
do País: o desemprego. O que está acontecendo?<br />
Por que essa questão aflige mais os brasileiros<br />
do que a da saúde, da educação ou da segurança,<br />
setores em situação tão precária no País?<br />
Esse não é um problema apenas brasileiro. Na<br />
abertura da Feira de Hannover, Alemanha, nesta 5emana,<br />
o Primeiro-Ministro daquele país enfatizou<br />
que a grande questão a ser enfrentada pela Europa<br />
unida é o desemprego, questão essa que chama os<br />
esforços <strong>dos</strong> Governos nacionais e de organizações<br />
supranacionais para o redesenho de políticas específicas<br />
de combate ao problema.<br />
O PSDB, visando ao debate das políticas voltadas<br />
ao aumento do emprego e do trabalho, na sua<br />
convenção de sábado último, neste mesmo plenário,<br />
por iniciativa do Deputado Franco Montara, realizou<br />
seis painéis tratando de ações concretas e de propostas<br />
para atacar o problema do desemprego no<br />
Brasil. Não houve discursos, mas relatos de ações<br />
no âmbito municipal e estadual e requerimentos do<br />
partido do Governo de ações concretas para atacar<br />
essa questão.<br />
Reconheci<strong>dos</strong> pelas organizações internacionais<br />
que analisam a questão do trabalho e das relações<br />
do trabalho, do emprego e da formação da renda,<br />
seis setores têm respondido a esse desafio de<br />
incorporação de mão-de-obra num processo de desenvolvimento<br />
diferente daquele que gera tremenda<br />
concentração de renda no mundo. Esses seis setores<br />
são: as pequenas e microempresas; a agricultura<br />
familiar e a reforma agrária; cooperativas e associações<br />
similares; construção de habitação e obras<br />
públicas; turismo e, principalmente, educação para o<br />
trabalho.<br />
O relato das ações concretas que vêm sendo<br />
desenvolvidas por Municípios e Esta<strong>dos</strong> brasileiros é<br />
estimulante, tão estimulante quanto grave e triste é o<br />
problema do crescimento do desemprego. Nos próximos<br />
cadernos do PSDB, publicação de divulgação<br />
do nosso partido, os resulta<strong>dos</strong> desses painéis serão<br />
divulga<strong>dos</strong> e poderão ser aprecia<strong>dos</strong> por toda a<br />
sociedade, em boa hora. Mas, além de relatos, propostas<br />
e discursos - como o que faço e como os<br />
que acabei de ouvir no Pequeno Expediente --, há<br />
muito o que fazer nesta Casa para que ela realize a<br />
sua razão de ser, ouvindo os clamores da sociedade,<br />
que estão em to<strong>dos</strong> os veículos de comunicação,<br />
estão em nossas vozes, estão nas ruas.<br />
Esperamos que esta Casa passe a ser um<br />
agente mais importante do que tem sido no ataque<br />
à questão do desemprego. E explico por que menciono<br />
esta Casa. A Câmara <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>, como<br />
instituição, é como o resto das instituições que formam<br />
o que chamamos de elite neste País. Tratase<br />
de um todo desestruturado, ou - por que não<br />
dizer? - com uma estrutura que apresenta laivos<br />
de arcaísmo.<br />
Hoje funcionamos de forma diferente daquela<br />
que desejaríamos para sermos o agente da sociedade<br />
capaz de modificar o quadro que gera desemprego.<br />
E, ao invés de utilizar aquela técnica que muitas<br />
vezes tem sido empregada nesta tribuna, a de apontar<br />
um único culpado - e sempre o Governo, o Estado<br />
burocrático e opressor -, proponho um amplo debate,<br />
responsabilizando a to<strong>dos</strong> nós, que fazemos<br />
parte da elite, pelo quadro de desemprego atual.<br />
Antes que os mais afoitos vejam no assunto<br />
apenas a exploração política de uma preocupação<br />
popular com vistas às próximas eleições - como já<br />
sugeriram alguns analistas cujos artigos lemos -, é<br />
preciso avaliar com serenidade os vários aspectos<br />
econômicos e políticos relaciona<strong>dos</strong> com a questão<br />
do emprego. Em primeiro lugar, consideramos as<br />
estatísticas, não por viés de economista, mas porque<br />
elas têm sido aqui citadas: como se explica o<br />
fato de que entre os brasileiros a primeira preocupação<br />
seja o desemprego, com o quadro <strong>dos</strong> indicadores<br />
sociais que vemos hoje, enquanto na Argentina<br />
a taxa chegou a 20%, em 1995, e na Espanha há o<br />
flagelo de 3,5 milhões de trabalhadores desocupa<strong>dos</strong><br />
- 22% da população economicamente ativa -, o<br />
que levou to<strong>dos</strong> os parti<strong>dos</strong> políticos a transforma-