DIARIO DA CAMARA DOS DEPUTADOS - Câmara dos Deputados
DIARIO DA CAMARA DOS DEPUTADOS - Câmara dos Deputados
DIARIO DA CAMARA DOS DEPUTADOS - Câmara dos Deputados
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
11204 Quinta-feira 25 DIÁRIO <strong>DA</strong> CÂMARA <strong>DOS</strong> DEPUTA<strong>DOS</strong> Abril de 1996<br />
sos de guerra que, próximo à sua costa, bombar~ não podem se sindicalizar, desviam os fatos, com o<br />
deiam tiro e outras cidades do sul do País.<br />
amparo <strong>dos</strong> recursos de comunicação de massa, e<br />
É preciso, Sr. Presidente, que todas as nações tacham de massacre um incidente ligado à fenomedo<br />
mundo condenem a sórdida agressão israelense nologia da articulação ideológica assentada na psiao<br />
Líbano, e que as resoluções da ONU sejam cum- cologia da linguagem. Taumaturgos da instabilidade<br />
pridas por Israel, pois, do contrário, voltaremos a do sociopolítica do País extrapolam do Pará para outros<br />
direito internacional da voz <strong>dos</strong> canhões, e não da Esta<strong>dos</strong> a notícia tenebrosa de que todas as Polídiplomacia.<br />
cias Militares são violentas, desorganizadas, despre-<br />
Esperamos que o Governo brasileiro tome to- paradas e insensíveis ao diálogo.<br />
das as providências, diplomaticamente, para o resta- Fatos isola<strong>dos</strong>, em crítica sensata e honesta,<br />
belecimento da paz no Líbano.<br />
jamais fundamentam a generalização.<br />
Enquanto isso, nos também vivemos a nossa Representantes do povo no Parlamento Fedeguerra<br />
civil. ral, to<strong>dos</strong> ~emos o dever de apreciar com justiça a<br />
O conflito deflagrado no Pará, malsinadamente utilidade social. e a destinação jurídica de nossas<br />
enxovalhado com a morte de dezenove civis, Jem.. instituições. Conhecemos a verdade sobre nossas<br />
duas vítimas: a ala <strong>dos</strong> sem-terra e a Polícia Militar Polícias Militares, cuja consagração vem da busca<br />
daquele Estado. A primeira, porque lançada à des- de um padrão de qualidade e de decência deontolóventura<br />
pelos corifeus do poder agrário. A segunda, gica de seus propósitos, em favor da sociedade e do<br />
porque é o repositório <strong>dos</strong> preconceitos e estereóti- cidadão.<br />
pos de míopes medalhões que a têm na conta de Como Deputa<strong>dos</strong> Federais, não podemos rapilixo<br />
autoritário da Ditadura, além de ter sido ameaça- nar a estrutura do sistema de preservação da ordem<br />
da e constrangida pela primeira. Isto está provado pública e da defesa social; ao contrário, temos de reem<br />
reportagem do programa Fantástico do último forçá-lo e contribuir para seu aprimoramento.<br />
domingo, 21 de abril de 1996. Enquanto facundo re- Poucos órgãos públicos funcionam sob orientapórter<br />
Bial execrava a Polícia Militar do Pará, as po- ção ética e técnico-profissional tão autêntica e legítiderosas<br />
câmeras da Rede Globo mostravam ao Bra- ma quanto a que norteia os preceitos e as realizaçõsil<br />
e ao mundo a mais degradante cena de desobe- es das Polícias Militares e da Justiça Castrense.<br />
diência criminosa: os humildes sem-terra de Eldora-<br />
A hora é de reflexão para aperfeiçoamento, e<br />
do <strong>dos</strong> Carajás, de foice em riste, acuara a tropa de não de insensatez para desmontagem de estruturas<br />
polícia designada para a desobstrução da rodovia indispensáveis ao melhoramento da qualidade real<br />
naquele trecho fatídicÇ>. Não somente a acuaram de vida <strong>dos</strong> brasileiros.<br />
mas também a fizeram recuar. Um bando armado de<br />
foices. Aquele recuo <strong>dos</strong> solda<strong>dos</strong> paraenses repre- Por isso, temos de entender a etiologia das insenta<br />
seu ânimo de restabelecer a ordem com a prá- quietações sociais. No Brasil, o problema agrário<br />
tica de violência? Mas o recuo da força pública em tem sido, cultural e historicamente, a causa imediata<br />
face da estultice agasalha uma significação desas- de colisões ideológicas e políticas, de desajustes sociais<br />
e de delitos.<br />
trosa: naquele momento, caía por terra toda a autoridade<br />
do Poder Público paraense.<br />
Enquanto o Poder Público não resolver a ques-<br />
A resposta da Polícia Militar do Pará causou 19 tão agrária, nossa Constituição continuará sendo<br />
mortos, saldo lamentável cuja responsabilidade penai<br />
cartilha de mentiralha democrática.<br />
será apreciada e decidida pelo Poder Judiciário, Tomara que o conflito <strong>dos</strong> sem-terras do Pará<br />
e a Justiça Civil, pois no Pará não existe Justiça Mili- seja o motivo maior da equação· dessa vergonhosa<br />
tar, ao contrário do que apregoa o ministro Jobim. situação, ponto de desonra do País e muladar da so-<br />
Se o Comandante da operação foi precipitado ou in- berania nacional.<br />
curioso, se recebeu ou não ordem superior para apli- Enquanto o Poder Político não enteder que a<br />
car intensidade de força na solução do problema, reforma agrária é mais importante que a reeleição e<br />
tudo isso merecerá adequadas providências das au- que os conchavos de apadrinhamento de banqueitoridades<br />
para tanto competentes.<br />
ros, os sem-terras continuarão sobrepondo-se à lei e<br />
O mais grave de tal embate é que ele está dei- às autoridades.<br />
xando de ser episódio para se transfigurar em rotina, Enquanto o Poder Público não enxergar a graem<br />
detrimento da verdade sociológica. Detratores da vidade lamentável <strong>dos</strong> tumores políticos e sociais<br />
imagem das Polícias Militares, pois seus membros que envolvem a reforma agrária, a foice <strong>dos</strong> sem-