REVISTA_DO_INSTITUTO_GEOGRAFICO_E_HISTOR

Nicolau foi instar os seus fiéis a sepultar os mortos em cemitério e não
mais nas Igrejas, que deveriam ser reservadas para o culto divino.
O inverno na cidade do Porto, em janeiro de 1834, foi tão rigoroso
que o Velho Liberal afirmou que “me meteo mais medo que todos
os meus zoilos”. Afinal, vivera no calor da Bahia. Por causa dos efeitos
do frio, estava cercado por remédios à cabeceira da cama, “tonicos
emolientes e anti-defluxivos”. Lamentava ter “perdido os meus melhores
escriptos, tanto impressos no Brazil, como em Lisboa; e perdi, ou
me roubarão muitos manuscriptos, que nunca virão o prelo. (...) He
desgraça que eu achasse mais acolhimento entre estrangeiros por meus
escriptos, que entre meus nacionaes, que me prendêrão e roubarão por
eu os querer instruir. (...). 90 Revelou que seu “desabafo he borrar papel”
e que já não sabia mais “como [seu] Impressor se entende com taes
garatujas”. Confessa, afinal, que:
Estou falto de roupas, porque D. Miguel me
roubou tecidos, e muitos ricos cobertores, que
zombavão de mil janeiros. O Conde da Taipa
(...) bem me podia indemnisar de dois contos
pouco mais ou menos que me forão roubados
em mobilia, que tanta falta me faz agora. Nem
livros tenho para lêr, e queria passar pela memoria
o Padre Antonio Genuense, que se ensina
nas aulas de Lisboa, e mesmo nas casas particulares
de grande logica. Tenho apenas os meus
breviarios, huma arte de cosinha, e toda a minha
biblioteca he exactamente que hum Conego
de Hespanha deixou em legado a Gil Braz de
Santilhena. (...) Huma tosse impertinente não
me deixa dormir. As fibras do cérebro andão tão
trasmalhadas, como he facil conjecturar a quem
ler meus escriptos. 91
Esse foi o último número de O Velho Liberal do Douro terminado
pelo padre Macedo. O seguinte, de número 60, o mesmo da sua idade,
encerrou informando que “Neste N. finalizão os Ensaios Politicos
90
O Velho Liberal do Douro, n. 60, 1834, pp. 578-580.
91
O Velho Liberal do Douro, n. 59, 1834, p. 575.
Rev. IGHB, Salvador, v. 108, p. 221/262, jan./dez. 2013 | 261