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REVISTA_DO_INSTITUTO_GEOGRAFICO_E_HISTOR

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Martiniano do Bonfim também participou na produção de textos,<br />

traduzindo do inglês para o português, a contribuição de um poeta nigeriano,<br />

Ladipô Solanke, A concepção de Deus entre os negros iorubas.<br />

Há também um texto assinado por Martiniano como autor intitulado Os<br />

ministros de Xangô. Mas em realidade esse texto não foi apresentado<br />

durante o congresso. Foi elaborado depois do evento, através de uma<br />

colaboração entre o babalaô e Carneiro 6 .<br />

Os textos dos sacerdotes publicados nos anais do congresso representam<br />

os primeiros exemplos de discurso público sobre o candomblé<br />

produzidos pelo povo de santo. Entretanto, observamos que, dos<br />

três terreiros considerados as grandes casas nagôs, o Gantois, a Casa<br />

Branca e o Opó Afonjá, só este último, através de Martiniano e Aninha,<br />

envolveu-se na produção textual do congresso.<br />

Além de inaugurar a produção textual do próprio povo de santo,<br />

o Congresso trouxe outras consequências significativas para os terreiros.<br />

Um memorial reivindicando o reconhecimento do candomblé como<br />

uma religião e exigindo a eliminação da prática de registrar os terreiros<br />

na polícia, dirigido ao governador Juracy Magalhães, foi elaborado e<br />

assinado por vários intelectuais e pais de santo, entre eles Martiniano<br />

e Carneiro.<br />

Nos anos 1930, os muitos líderes religiosos que exerciam, com<br />

maior ou menor influência, papéis importantes nos candomblés da<br />

Bahia, podemos considerar que dois se destacaram de maneira indiscutível:<br />

o babalaô Martiniano Eliseu do Bonfim e a ialorixá Eugênia Ana<br />

dos Santos, a Aninha, do Opô Afonjá.<br />

Martiniano Eliseu do Bonfim foi um membro muito influente<br />

dos candomblés da Bahia, desde os fins do século XIX. Nina Rodrigues<br />

a ele já se referia, como um valioso informante, sem mencionar seu<br />

nome:<br />

6<br />

Idem.<br />

Há aqui na Bahia diversos negros que aprenderam<br />

em Lagos a ler e escrever a língua iorubá.<br />

Não me tendo chegado até agora a gramática<br />

e o dicionário iorubano inglês que de Lagos<br />

58 | Rev. IGHB, Salvador, v. 108, p. 55/76, jan./dez. 2013

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