13.02.2018 Views

REVISTA_DO_INSTITUTO_GEOGRAFICO_E_HISTOR

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ia um título em família que adora os eguns. Ojé prefixado ou aposto<br />

a um complemento nominal, forma uma série de nomes próprios e de<br />

oiés usados em louvor dos antepassados das linhagens iorubas associadas<br />

às complexas categorias da crença na imortalidade. Martiniano era<br />

chamado e conhecido, nos terreiros da Bahia, inclusive no culto dos<br />

eguns de Itaparica, por seu nome nagô de Ojeladê. Depois da morte de<br />

Martiniano, em 1943, o nome de Ojeladê integrou-se, naturalmente,<br />

na hierarquia do culto dos eguns, de maneira que, em dois terreiros de<br />

Itaparica, existem titulares com o nome de Ojeladê 16 .<br />

Sobre as viagens de Martiniano à Africa, especialmente a primeira,<br />

levado por seu pai quando tinha uns 14 anos. Seu destino foi<br />

Lagos, hoje capital da Nigéria, mas àquela época uma colônia que centralizava<br />

a crescente expansão colonial inglesa sobre os povos iorubas<br />

e seus vizinhos. Martiniano, segundo sua entrevista a Pierson, ficou em<br />

Lagos, durante onze anos e nove meses, de 1875 até 1886. Mais tarde,<br />

retornaria à Africa, para ele, “Africa” era Lagos, eram os nagôs/iorubas,<br />

sua nação, onde estava por mais um ano. Três anos depois, voltaria para<br />

“com coral, lã grossa e fina e pano-da-costa para vender aqui”. Ainda<br />

sobre sua primeira viagem, um antigo Obá do terreiro do Opô Afonjá,<br />

que foi muito amigo de Martiniano, contou a Édison Carneiro que “[...]<br />

o pai dele mandou ele para a Africa, porque numa briga ele quebrou a<br />

cabeça de um rapaz branco, filho de um homem importante e teve que<br />

se esconder da polícia” 17 .<br />

A ida à Africa de africanos libertos e de seus filhos, durante o<br />

final do século XIX, servia como um importante elemento legitimador<br />

de prestígio e gerador de conhecimentos e poder econômico. Enquanto<br />

negociavam mercadorias trazidas da Costa e levada ao Brasil, reciclavam<br />

o saber da tradição religiosa. Assim aconteceu com Martiniano,<br />

quando retornou de Lagos “cheio de saber e razão”.<br />

16<br />

CARNEIRO, Édison. Cartas de Édison Carneiro a Artur Ramos: de 4 de janeiro de<br />

1936 a 6 de dezembro de 1938. São Paulo: Corrupio, 1987, p. 51<br />

17<br />

LIMA, Vivaldo da Costa. Família de santo nos candomblés jejes nagôs da Bahia:<br />

um retrato sobre as relações intra-grupais. Salvador: UFBA, 1977, p. 118.<br />

66 | Rev. IGHB, Salvador, v. 108, p. 55/76, jan./dez. 2013

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!