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REVISTA_DO_INSTITUTO_GEOGRAFICO_E_HISTOR

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mandei buscar, a tradução e a ortografia das<br />

palavras iorubanas empregadas neste trabalho,<br />

vão como me foram ensinadas por um moço<br />

negro, de pais africanos, que por muitos anos<br />

residiu em Lagos 7 .<br />

Dessa colaboração de Martiniano com Nina, falaria o próprio<br />

babalaô, muitos anos mais tarde, em 1938, à antropóloga Ruth Landes:<br />

“[...] todo mundo pensa que eu tenho muito dinheiro, mas desde que o<br />

Dr. Nina Rodrigues morreu, não tive mais emprego regular” 8 .<br />

Nina Rodrigues privilegiava informações fornecidas pelos africanos<br />

mais velhos, a importância de Martiniano provavelmente decorria<br />

da sua habilidade com o iorubá escrito e dos seus contatos recentes<br />

e prolongados com a África. Um dos aspetos interessantes do seu caso,<br />

contudo, é a importância de informações fornecidas por indivíduos letrados,<br />

logo no início do discurso científico sobre a religiosidade afrobrasileira,<br />

geralmente tratada como uma tradição que se apoia exclusivamente<br />

na oralidade.<br />

Há pouca evidência no registro de como Rodrigues percebia<br />

Martiniano, mas há várias indicações de como Martiniano via o pesquisador.<br />

Depoimentos registrados por Ruth Landes e Édison Carneiro<br />

muitos anos depois sugerem que Martiniano considerava a relação favorável.<br />

Numa entrevista concedida a Carneiro, Martiniano o descreve<br />

como um “grande amigo” e conta que os dois tinham planos de viajar<br />

juntos à Nigéria.<br />

Para os intelectuais dos anos 1930, o babalaô Martiniano do<br />

Bonfim chegou a ocupar uma posição única, como remanescente celebrado<br />

da idade de ouro dos estudos antigos, quando ainda havia a presença<br />

de negros nascidos na própria África. Seu prestígio pelo vínculo<br />

com o passado foi complementado por um conjunto de outros fatores:<br />

sua importância singular como um dos últimos babalaôs no Brasil; sua<br />

vivência na África; sua idade avançada, numa religião em que a im-<br />

7<br />

RODRIGUES, Nina. O animismo fetichista dos negros bahianos. Rio de Janeiro:<br />

Civilização Brasileira, 1935, p. 25.<br />

8<br />

LANDES, Ruth. A Cidade das Mulheres. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,<br />

1967, p. 33.<br />

Rev. IGHB, Salvador, v. 108, p. 55/76, jan./dez. 2013 | 59

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