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REVISTA_DO_INSTITUTO_GEOGRAFICO_E_HISTOR

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Um aspecto pioneiro no Congresso, como o próprio Carneiro<br />

assinalou foi que ele gerou textos elaborados por pessoas do candomblé.<br />

Na autoria, houve um equilíbrio cuidadoso entre as três principais<br />

nações: Bernardino do Bate Folha se descrevia como congo-angola,<br />

enquanto Manuel Falefá era conhecido como jeje. Os nagôs foram representados<br />

por Martiniano do Bonfim e Aninha do Opó Afonjá. Entretanto,<br />

os textos focalizaram os preceitos e lendas dos orixás, voduns e<br />

enquices, sem qualquer menção aos caboclos, até mesmo no texto de<br />

Bernardino 2 .<br />

O texto de Bernardino do Bate Folha (Manuel Bernardino da<br />

Paixão), Ligeira contribuição sobre a nação congo, consiste em observações<br />

básicas sobre os nomes das entidades bantus, os enquices, os<br />

quartos de santo e o ritual de dar comida à cabeça, terminando com uma<br />

lista de vocábulos congos, muitos dos quais não parecem ter ligação<br />

qualquer com o cotidiano dos terreiros. Assim, o texto de Bernardino<br />

constitui uma instância pioneira sobre o que podemos considerar através<br />

da ótica de diálogo intertextual entre a produção de estudiosos e a<br />

dos sacerdotes, o que é bastante comum hoje em dia 3 .<br />

O texto de Manuel Victorino da Costa (Falefá), intitulado O<br />

mundo religioso do negro da Bahia, comenta alguns elementos do islã<br />

no universo mítico do candomblé e compara os nomes dos orixás com<br />

os dos voduns 4 .<br />

O texto de Eugênia Anna dos Santos, mãe Aninha do Ilê Axé<br />

Opó Afonjá, Notas sobre comestíveis africanos, é de apenas uma página.<br />

Não é uma narrativa linear, consiste numa lista de comidas afrobrasileiras,<br />

sem detalhe sobre o modo de preparar ou os ingredientes.<br />

Esta característica do texto de Aninha pode evidenciar a resistência da<br />

autora à ideia de expor detalhes considerados por ela como fundamentos<br />

religiosos. Outra possibilidade é que seu nível de letramento não a<br />

deixava muito fluente no ato de compor um texto narrativo 5 .<br />

2<br />

Idem.<br />

3<br />

CASTILLO, Lisa Earl. Entre a escrita e a oralidade: a etnografia nos candomblés da<br />

Bahia. Salvador: EDUFBA, 2010, p. 129.<br />

4<br />

Idem.<br />

5<br />

Idem, p. 130.<br />

Rev. IGHB, Salvador, v. 108, p. 55/76, jan./dez. 2013 | 57

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