13.02.2018 Views

REVISTA_DO_INSTITUTO_GEOGRAFICO_E_HISTOR

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

científico. Essas explicações de Landes mostram que ela nunca considerou<br />

a ciência convencional nem como o meio nem o fim de seu trabalho<br />

de campo. Sua imersão na cultura estudada deu-lhe uma perspectiva<br />

envolvida, mas também a colocou em situações inaceitáveis para<br />

mulheres de seu estado na época aludida. A promiscuidade de Landes<br />

nessas comunidades negras e pobres de candomblé atraiu a crítica e<br />

atenção de funcionários brasileiros e colegas norte-americanas.<br />

Este contexto das vidas e das perspectivas pessoais e acadêmicas<br />

de Carneiro e Landes fornece um caminho para examinar os detalhes de<br />

suas pesquisas e seu relacionamento. Um exame do período juntos nos<br />

terreiros de candomblé em agosto de 1938 a fevereiro de 1939 clarifica<br />

como Carneiro influenciou Landes em seu processo e produto final, o<br />

livro A Cidade das Mulheres. Landes entendeu e reconheceu a ajuda<br />

indispensável que Carneiro lhe deu durante sua pesquisa na Bahia. Em<br />

A Cidade das Mulheres, Landes explica,<br />

Nesta terra, onde a tradição bloqueava mulheres<br />

solteiras dentro de casa ou as jogava nas ruas,<br />

teria sido impossível para eu andar sem um guia<br />

com autoridade... Ele era a melhor garantia aos<br />

negros que eu nem era uma espiã rica nem uma<br />

intrometida; e até certo ponto, ele destruiu o<br />

desconforto que eles sentiam com estrangeiros<br />

(Landes 1947: 14).<br />

Landes preferia ficar longe da “colônia americana na Bahia, de<br />

mais ou menos 200 pessoas”. Ela não se relacionou com esta vida luxuosa<br />

e explicou como “[...] eles não queriam nada da Bahia, do povo, da<br />

vida... Eu me voltei para Édison e a vida do culto nos absorvia.” Quando<br />

ela chegou à Bahia, seu primeiro guia, Jorge, “odiava e detestava”<br />

os candomblés, e tentou convencer Landes que os candomblés “matam!<br />

O candomblé é magia negra! É superstição! Eles não são civilizados!<br />

Não, me perdoe, mas não posso te acompanhar lá” (Landes 1970: 130,<br />

133*). Isso era uma atitude comum na colônia americana e suas colegas<br />

e ajudantes nessa época.<br />

Landes encontrou Carneiro nos círculos acadêmicos baianos,<br />

apresentados por Artur Ramos. Ela imediatamente reconheceu Carneiro<br />

90 | Rev. IGHB, Salvador, v. 108, p. 77/106, jan./dez. 2013

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!