Baixar - Brasiliana USP
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viar a vista do panorama que se descortinava<br />
em torno. E, preza ao espaço<br />
pelos olhos, sentia-se arrebatar n'um<br />
extasis delicioso, como se se tivesse<br />
desprendido da terra e pairasse voluptuosamente<br />
nos ares.<br />
Assim quedou-se alguns instantes,<br />
emquanto o pae, ao lado descansava,<br />
assentado sobre uma pedra.<br />
Depois, Olympia compçou a empallidecer<br />
gradualmente; foi pouco a<br />
pouco fechando os olhos, e teria<br />
cabido de costas,se a não amparassem<br />
o velho e os homens que alli perto<br />
trabalhavam.<br />
— Eu já previa isto! Considerava<br />
o pae, ainda não restabelecido do<br />
cansaço. Lembrar-se de subir a estas<br />
alturas !... E agora a volta?...<br />
Pôde ficar tranquillo, disse um<br />
dos trabalhadores — eu me encarrego<br />
de descer esta senhora, sem que<br />
lhe acontpça a menor coisinha.<br />
— Ainda bem ! respondeu o velho.<br />
O trabalhador, que se acabava de<br />
offerecer para levar Olympia, era um<br />
moço talvez de vinte e cinco annos.<br />
Forte, bello de vigor. Estava nú da<br />
cintura para cima, e a riqueza de seus<br />
músculos patenteava-se ao sol como<br />
um arrojo da velha estatuaria da<br />
Grécia.<br />
Os cabellos, empastados de suor<br />
cahiam-lhe em desalinho sobre a<br />
fronte tostada; os olhos, sem a<br />
expressão maliciosa dos olhares educados<br />
nas salas, á luz do gaz e á<br />
vaporisaçãoenervante de falsos desejos,<br />
tinham todavia essa irradiação<br />
pura, que penetra a alma plácida<br />
das mulheres, e as leva a sonhar<br />
estranhas fantazias e amores romanescos.<br />
Elle entretanto não tinha consciência<br />
de tudo isso; offerecia-separa<br />
U<br />
MYSTERIO DA TIJUCA 105<br />
conduzir Olympia, porque podia facilmente<br />
desempenhar esse serviço,<br />
e lucrar uma esportola.<br />
— Vamos ! disse o velho—não convém<br />
demorarmo-nos mais aqui. Veja<br />
se a pôde trazer carregada,<br />
O rapaz passou um braço na cintura<br />
de Olympia. e com o outro suspendeu-a<br />
pelas curvas dos joelhos,<br />
chamando-lhe todo o corpo contra o<br />
seu largo peito nú. Ella deixou pender<br />
a cabeça sobre o seu hombro, na<br />
inconsciencia do vagado e continuou<br />
adormecida.<br />
Os dois seguiram pela irregularidade<br />
íngreme do caminho. Era preciso<br />
muito cuidado para não rolarem<br />
juntos; as vezes em um solavanco<br />
mais forte o rostoá'gelado de Olympia<br />
ia de encontro á face esfogueada do<br />
trabalhador.<br />
Ella afinal soltou um gemido e<br />
abriu vagarosamente os olhos. Não<br />
perguntou onde estava, não indagou<br />
quem a conduzia, apenas esticou<br />
nervosamente os dedos n'um estremecimento<br />
preguiçoso, para de novo<br />
estreitar-se ao peito do rapaz, cingindo-lhe<br />
os braços em volta do pescoço.<br />
Feito isto, tornou a cahir no seu entorpecimento,<br />
e ficou com os olhos<br />
meio cerrados, as narinas soffregas,<br />
os seios offegantes e os lábios mollemente<br />
separados por um espasmo<br />
voluptuoso. Sentia-se muito bem no<br />
conchego tepido d'aquelle collo robusto,<br />
penetrada pelo calor lascivo e<br />
vivifleante do corpo másculo que a<br />
sustinha. O contacto d'aquclla vigorosa<br />
carnação, creada ao ar livre e<br />
enriquecida pelo trabalho e pelo largo<br />
sol americano, sacodia-lhe todos os<br />
sentidos e acordava-lhe em sobresalto<br />
o sangue adormecido nas veias.<br />
A deseida cada Tez. se tornava mais