Baixar - Brasiliana USP
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O commendador fez uma careta,<br />
e sacudiu os hombros.<br />
LXI<br />
ONDE O AUTOR PÕE O NARIZ DE FORA<br />
Leitor! Parece que vás pouco a<br />
pouco adormecendo com o descaminho<br />
que demos ao filamento primordial<br />
d'este romance, e que te queres<br />
esquecer do nosso ponto de partida.<br />
Espera, tem paciência, acorda! Em<br />
breve Gregorio estará de novo em<br />
tua presença. Clorinda reapparecerá;<br />
verás de novo a velha Januaria, a<br />
romântica viuva Guterres, o pretencioso<br />
commendador Portella, cujo<br />
typo já alguém se lembrou de dizer<br />
indiscretamente que pretendia photographar<br />
o massante pintor d'esse<br />
nome, que aliás nenhuma relação tem<br />
com onosso antipathico personagem.<br />
Pedro Ruivo resurgirá; Leão Vermelho,<br />
o conde, a condessa Margarida, a<br />
delicada Maria Luiza, o Tubarão, o<br />
Talhacerto, o marido de Olympia, o<br />
João Rosa, a inalterável mulher do<br />
Dr. Roberto, que possue justamente o<br />
mesmo nome da mulher do commendador<br />
Ferreira; a rabujenta D. Josephina,<br />
que serviu de madrinha ao<br />
casamento do nosso Gregorio com a<br />
desditosa Clorinda; todas essas figuras<br />
irão de novo passar pela tua<br />
vista.<br />
Que diabo! Era preciso explicar<br />
bem as circumstancias que determinaram<br />
as scenas estranhas dos primeiros<br />
capítulos.<br />
Mas, querido leitor, se te sentes<br />
aborrecido, se te cansam as nossas<br />
descripções mal desenhadas, se te<br />
enfastiam as nossas modestas considerações<br />
a respeito do hysterismo de<br />
MYSTERIJ DA TIJUCA 171<br />
D. Olympia, dos sobresaltos e da moléstia<br />
nervosa da mulher do commendador<br />
Ferreira, decide-te a nos prevenir<br />
dessa desgraça emquanto é<br />
tempo, falia-nos com franqueza em<br />
uma carta, em uma declaração de<br />
qualquer espécie, que nós tomaremos<br />
a heróica resolução de apressarmos o<br />
passo e quanto antes te lançaremos<br />
ao nariz o desfecho da obra.<br />
Sabes, e se não sabes fica sabendo,<br />
que os factos que ahi deixamo|, tão<br />
a mingoa descriptos, não são puramente<br />
inventados por nós, mas colhidos<br />
aqui e alli da vida real. Cada<br />
um dos typos d'este romance tem<br />
atraz de si um ou mais indivíduos,<br />
que encontrámos na rua, no theatro,<br />
nas repartições publicas ou em alguma<br />
reunião de família.<br />
Andamos como os trapeiros, de<br />
sacco ás costas, a mariscar por ahi<br />
n'esse mistiforio de paixões boas e<br />
más, de bons e maus impulsos, de intenções<br />
de toda a espécie, n'essa mistela<br />
de virtudes heróicas e misérias<br />
degradantes, de cuja argamassa se<br />
fôrma a estranha cousa, que se chama<br />
—vida humana.<br />
As vezes entre os trapos e os godilhões,<br />
apanhados á esmo pela rua,<br />
deparamos com alguma jóia de valor<br />
e remettemos logo, tudo de cambulhada,<br />
para o sacco das observações.<br />
São essas pequeninas jóias, perdidas<br />
nas enchorradas da vida real,<br />
que de vez em quando quebram a<br />
invencível monotonia de nossas relações.<br />
Vês por conseguinte que seguimos<br />
o curso fatal de certas leis. Não é<br />
bastante dizer, é preciso dizer e explicar.<br />
Já não estamos no tempo em que<br />
o romancista podia empilhar todas