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Baixar - Brasiliana USP

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cada que os levara alli, voltarem<br />

immediatamente, cada um para seu<br />

destino. Mais assim não succedeu.<br />

Os desvelos de Cecília á cabeceira<br />

de Margari Ia, o modo carinhoso, a<br />

abnegação, o amor, com que ella desputava<br />

a amiga das garras da morte,<br />

seduziram-os a ponto de prendel-os.<br />

' Cecília com effeito havia tomado<br />

muito interesse pela enferma. Uma<br />

certa affinidade de temperamentos e<br />

como que uma estranha necessidade<br />

de padecer pelos outros amarravam-n'a<br />

á cabeceira de Margarida.<br />

Suas dores escondidas, talvez já o<br />

seu arrependimento de ter sido tão<br />

crédula e tão fraca, pediam-lhe<br />

aquelles trabalhos penosos, como o<br />

remorso pede ao criminoso a dura<br />

expiação de seus delictos.<br />

A victima de Pedro Ruivo comprazia-se<br />

naquelladedicação ; achava<br />

prazer, conforto, no martyrio a que<br />

se impuzera por um reclamo de sua<br />

consciência. E d'essa fôrma não abandonava<br />

um só instante a cabeceira de<br />

Margirida, prompta sempre ás horas<br />

de dar o remédio, de mudar-lhe a<br />

roupa, de correr ao seu mais leve gemido<br />

e de sustental-a nos braços horas<br />

esquecidas; sempre risonha, sempre<br />

meiga, sempre consoladora.<br />

Quando a doente principiou a convalecer,<br />

adorava a sua enfermeira. O<br />

conde de S. Francisco e o seu amigo<br />

da marinha encontraram-n'as n'essa<br />

situação. Margarida acabava de erguer-se<br />

pelo braço de Cecília.<br />

Principiou então uma nova epochá<br />

para todos elles. Os dous rapazes se<br />

tinham apaixonado pelas duas bellas<br />

amigas. O conde pretendia a filha<br />

do coronel e o official a outra.<br />

Mas Cecília ignorava tudo isso.<br />

Uma tarde a amiga tomou-lhe as<br />

MYSTERIO DA TIJUCA 71<br />

mãos e disse-lhe que tinha um pedido<br />

a fazer-lhe.<br />

— Só um ? Perguntou aquella, beijando-a<br />

na face.<br />

— Só, porém tão sério, que vale<br />

por muitos...<br />

— O que é ?<br />

— E' o pedido de tua mão.<br />

— De minha mão ? Perguntou Cecília,<br />

empallidecendo.<br />

— Sim, e tu já sabes para quem,<br />

disfarçada!<br />

— Para o Leão Vermelho !...<br />

— Justamente, para esse rapaz,<br />

que tanto estima teu irmão, quanto<br />

te adora.<br />

Cecília não respondeu e deixou-s?<br />

possuir de um grande embaraço. A<br />

outra insistio, beijando-a, affagando-a,<br />

dizendo-lhe as vantagens que<br />

poderiam vir d'esse casamento.<br />

Começou então para a filha de Helena<br />

uma grande luta interior. Seu<br />

caracter leal e generoso revoltava-se<br />

contra a mentira e a falsidade; mas<br />

o perigo imminente de sua posição,<br />

a vergonha que a esperava, o sobresalto<br />

em que ella vivia, acabaram por<br />

lhe suffocar os bons impulsos.<br />

Entretanto Leão Vermelho tinha<br />

de partir e precisava de uma resposta<br />

difinitiva.<br />

— E' muito cedo! interveio o coronel,<br />

lembrando que Cecília apenas<br />

o conhecia ha três dias.<br />

— Estas coisas resolvem-se assim<br />

ou se não resolvem, respondeu o official—<br />

Parto amanhã para uma viagem<br />

longa, talvez a ultima que faça. e<br />

desejo saber se posso ir casado ou se<br />

tenho de procurar esquecer-me das<br />

saudades que d'aqui levo.<br />

Cecília concordou finalmente, e<br />

d'ahi a dois dias casava-se com o<br />

Leão Vermelho e seguiam viagem.

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