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Baixar - Brasiliana USP

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mente que não estava disposta a voltar<br />

para a casa do marido.<br />

Portella fez um grande ar de surpreza.<br />

— E' o que te digo! sustentou ella<br />

—não volto!<br />

— Mas filha, pensa um pouco antes<br />

de fazer alguma asneira! Tu sabes<br />

que nem tudo n'este mundo são<br />

rosas!<br />

— Ora! respondeu ella, sacudindo<br />

os hombros. — Estou farta de ouvir<br />

conselhos!<br />

— Mas é que eu...<br />

— Não podes ter mulher, não é<br />

isso?... Ora escuta lá e depois me<br />

darás a resposta.<br />

— Então já tens um programma?!<br />

perguntou Portella a sorrir.<br />

— Um programma! Tenho uma<br />

idéa, o que é muito melhor! Ouve!<br />

LII<br />

SEDUCÇÃO<br />

— Eu tenho um dote, disse ella.<br />

— Um dote em accões, que me fez<br />

meu marido por occasião de casarmos.<br />

— E d'ahi? perguntou o Portella.<br />

— D'ahi é que deixaremos o Rio<br />

de Janeiro, mettemo-nos em uma<br />

província, ou então onde melhor o<br />

entenderes. e tu tratarás de te estabelecer,<br />

o que será fácil, pois com<br />

o talento que possues para o commercio.<br />

..<br />

— Isso é asneira!<br />

— Asneira, porque?!<br />

— Porque desde que abandonares<br />

o commendador, nenhum direito<br />

terás ao dote que elle te fez.<br />

— Diz a Chiquinha que não.<br />

— A Chiquinha não entended'isto!<br />

— Eu então não tenho direito a<br />

cousa alguma ?!<br />

MYSTERIO DA TIJUCA 143<br />

— Sei cá; só um advogado o<br />

poderia dizer...<br />

— O que me parece é que tu não<br />

tens vontade de ficar commigo.<br />

— Não sejas tola ! Se não tivesse<br />

já o teria declarado ha mais tempo.<br />

E, depois,de guardarem ambos um<br />

silencio de alguns segundos, Portella<br />

disse vagamente — se o commendador<br />

se lembrasse de morrer<br />

agora !<br />

Thereza olhou para o rapaz c^m<br />

um ar cheio de interrogações.<br />

— E'! justificou elle — se o commendador<br />

morresse, as cousas correriam<br />

naturalmente. Eu casava-me<br />

comtigo, estabelecia-me, e iríamos<br />

viver juntos, independentes e felizes.<br />

.<br />

E accrescentou. depois de urna<br />

pausa — Imagina que amanhã teu<br />

marido amanhece incommodado.<br />

Vem o medico e declara que a moléstia<br />

não é de cuidado—achaques da<br />

velhice. Recommenda regularidade<br />

na vida, abstinência de uns tantos<br />

prazeres e receita qualquer calmante.<br />

O commendador principia a tomar<br />

o remédio, mas de dia para dia vai<br />

sentindo-se peiorar. Afinal, umabella<br />

manhã, quando ninguém espera por<br />

isso, encontra-se o homem morto. O<br />

medico passa o seu attestado; tu te<br />

cobres de luto, recebes as visitas de<br />

pezames das amigas, choras naturalmente<br />

em presença de algumas d'ellas,<br />

e, um anno depois, os nossos amigos<br />

leêm com prazer a noticia de nosso<br />

casamento. Uma vez casados, iamos<br />

morar ahi em qualquer arrabalde,<br />

escolhíamos um chaletsinho próprio<br />

para a lua de mel. Eu trataria de te<br />

fazer esquecer a perda de teu commendador,<br />

e tu serias minha, minha,<br />

sem sobresaltos,sem receios ridículos;

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