Baixar - Brasiliana USP
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128 MYSTERIO DA TIJUCA<br />
como se houvesse um incêndio; outros<br />
protestavam contra a queda do<br />
grande gymnasta. Ninguém mais se<br />
entendia, davam-se encontrões ; nas<br />
torrinhas passavam uns por cima<br />
dos outros para poder vêr se distinguiam<br />
o acrobata. Este, entretanto,<br />
sem accôrdo e quasi sem vida, agonisava<br />
por terra, a vomitar sangue.<br />
Olympia, sem saber como, estonteada,<br />
horrivelmentepallida, tremula<br />
da cabeça aos pés, achou-se ao lado<br />
d'elle. Abaixou-se, tomou a cabeça<br />
do acrobata e posou-a no seu collo.<br />
Scott estremeceu^ esticou as pernas<br />
e os braços, torceu a cabeça para um<br />
dos lados, revirou seus olhos azues,<br />
contrahiu a bocca, serrou os dentes<br />
e soltou um gemido muito triste e<br />
prolongado.<br />
— Ai! gritou enormemente Olympia<br />
cahindo de costas.<br />
E começou a estrebuxarno chão.<br />
XLVII<br />
MÁU CAMINHO<br />
Só acordou em casa, ao lado de<br />
seu pae.<br />
Acompanhára-os desde o circo um<br />
medico ainda moço, que se achava<br />
presente na occasião do desastre. Era<br />
o Dr. Dermeval da Fonseca.<br />
Dos três parecia ser este o único<br />
que conservava o sangue frio na alcova<br />
a que recolheram a desfallecida.<br />
O commendador nada mais<br />
fazia do que ir de um para outro<br />
lado, sem nunca acertar com os objectos<br />
que lhe pedia o medico. Expediram-se<br />
receitas para a botica,<br />
vieram os remédios, e ás onze horas<br />
a enferma voltava a si. Abriu os<br />
olhos, olhou espantada por algum<br />
tempo para o pae e para 0 Dermeval,<br />
depois, reconstruindo as idéas, lembrou-se<br />
do facto que a fizera desmaiar,<br />
soltou um grito e recahiu na<br />
syncope. O Dermeval e o commendador<br />
apoderaram-se d'ella. Olympia<br />
queria morder os pulsos e gritava,<br />
agatanhando-se.<br />
Gregorio, na sala próxima, passeiava<br />
muito agitado, impaciente por<br />
descobrir um meio de ser útil aquella<br />
situação. Mas não se animava a approximar<br />
do quarto de Olympia;<br />
receiava commetter com isso alguma<br />
indiscripção. Ao mesmo tempo o seu<br />
amor próprio sentia-se acariciado<br />
pelo desastre do acrobata. Gregorio<br />
tivera ciúmes desde a primeira vez<br />
que observou o modo apaixonado<br />
por que Olympia acompanhava com<br />
a physionomia asdifficeis e graciosas<br />
evoluções do gentil funambulo.<br />
Não é que elle contasse ou ambicionasse<br />
merecer algum dia o amor<br />
da caprichosa senhora, não, porque<br />
estava no firme propósito de nunca<br />
deixar transparecer o menor vislumbre<br />
de seu desejo, ainda que para<br />
isso fosse necessário afogal-o em<br />
sangue. Mas o coração também vive<br />
d'esse dúbio querer e não querer,<br />
d'esse vago desejar, que nasce e<br />
avulta em nossos sentidos, sem o<br />
menor concurso do raciocínio. Gregorio<br />
era sem duvida um espirito<br />
summamente idealista e sempre<br />
voltado para o céo, mas era brazileiro<br />
e tinha dezesseis annos ; não<br />
podia, por conseguinte, furtar-se ás<br />
tendências naturaes do meio em que<br />
nascera, e á fatal idiosincrasia de<br />
sua raça. Verificava-se com elle um<br />
facto que se observa commummente<br />
em todos os brasileiros de dezesseis<br />
annos, que não tiveram a fortuna de<br />
encontrar alguém que lhes encami-