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Baixar - Brasiliana USP

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Gregorio chorava em uma saleta<br />

próxima.<br />

Nunca se persuadiu que sentisse<br />

tanto aquella morte. Olympia entrara<br />

na sua vida como um incidente<br />

fantástico e romanesco no meio de<br />

um livro frio de viagens. Agora arrependia-se<br />

de não ter sido com ella<br />

melhor, mais generoso, mais grato;<br />

sentia remorsos de não a ter amado<br />

um pouco mais! De lhe não haver<br />

pelo menos illudido com algumas<br />

caricias. Sim ! Isso talvez tivesse detido<br />

o curso da moléstia, e quem<br />

sabe se não a teria evitado. Mas não!<br />

replicava elle— não é possível fingir<br />

amor. N'estes casos temos fatalmente<br />

de ser viclima ou carrasco !<br />

E para fugir áquellas idéas aborrecidas,<br />

chamara em seu soccorro a<br />

imagem adorada de Clorinda. Essa<br />

era o futuro, a esperança de felicidade,<br />

era a aurora do dia seguinte.<br />

E só a lembrança d'essas novas<br />

claridades seccavam-lhe os últimos<br />

orvalhos d'aquella noite que fugia,<br />

para se perder nas sombras inalteráveis<br />

do passado.<br />

De todos, quem parecia mais sentido<br />

com tudo aquillo era o velho<br />

Jacob. O pobre homem viu em torno<br />

de si cahirem a pouco e pouco as<br />

arvores queridas, a cuja sombra<br />

abrigava a fraqueza de sua velhice.<br />

Gregorio então offereceu-lhe a casa<br />

e insistiu com o velho que fosse fazer-lhe<br />

companhia. Jacob aceitou,<br />

por isso que o vimos figurar no interrogatório<br />

policial no principio do<br />

romance.<br />

Em breve Gregorio não tinha outra<br />

idéa que não fosse a sua querida<br />

noiva, e Julia Guterres principiava<br />

a curtiros mesmostormentos porque<br />

passara Olympia.<br />

MYSTERIO DA TIJUCA 223<br />

Se as mulheres, e principalmente<br />

áquellas que despiram já a primeira<br />

mocidade, soubessem quanto é perigoso<br />

amar deveras um rapaz, que<br />

ainda não pagou todos os tributos da<br />

paixão e ainda não percorreu toda a<br />

escala dos amores! Ah! se ellas soubessem<br />

quanto isso é perigoso, não<br />

se deixariam tão facilmente prender<br />

aos ephemeros transportes de um<br />

namorad^ de vinte annos.<br />

O coração n'essa edade está mujto<br />

verde para,jjrder. E' preciso que o<br />

tempo e as lentas decepções da vida<br />

o resequem primeiro, para que o<br />

fogo se lhe possa communicar.<br />

E dizem os irreflectidos que o coração<br />

dos velhos é que é'frio. Que<br />

injustiça ! Ninguém ama com tanto<br />

ardor, ninguém se apaixona com<br />

tanto enthusiasmo.<br />

Parece que o homem, á proporção<br />

que envelhece, vai refugiando na<br />

coração todo o calor que lhe foge do<br />

corpo.<br />

A proporção que lhe deixam os<br />

dentes, que deserta o cabello, que<br />

lhe entorpecem as pernas e se lhe<br />

tornam mais e mais tremulas as<br />

mãos, tanto mais o coração se abranda<br />

para receber as impressões e se<br />

enrija para conserval-as depois.<br />

Desapparece o olfato, apagam-se<br />

os olhos, some-se otacto e o paladar,<br />

e o coração cada vez mais sente e<br />

mais vê !<br />

Porque estranho ódio teria a natureza<br />

formado assim o coração do<br />

homem ?! Para que, se lhe rouba do<br />

corpo as forças, os sentidos, as faculdades,<br />

se lhe carrega com os dentes,<br />

com o sangue dos lábios e a fre/cura<br />

dos cabellos, se o torna feio, ^velho,<br />

insupportavel, para que lh«v' deixa<br />

então o coração a pulsar c.aa vez com

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