Baixar - Brasiliana USP
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gamento, nova especulaçã >—os lucros<br />
triplicaram.<br />
Antes de chegar o terceiro anno de<br />
seu commercio, já lhe havia pingado<br />
da pátria sobre a golla do casaco a<br />
vermelha tetéia, por que elle tanto<br />
suspirava.<br />
Portella difinitavamente era um<br />
homem feliz. O documento em poder<br />
do commendador, longe de o prejudicar,<br />
servira, como vimos, para ineutir-lhe<br />
no animo a coragem e a<br />
resolução. Dous annos depois era<br />
estabelecido o Sr. commendador,<br />
gosava as melhores sympathias, estava<br />
já arranjadinho de fortuna, e<br />
olhava de frente para um futuro de<br />
causar inveja.<br />
Em breve abrir-se-iam em torno<br />
d'elle as boas relações, os bons sorrisos,<br />
as boas rodas fluminenses. No<br />
Rio de Janeiro com uma casa de negocio,<br />
uma casaca e uma commenda,<br />
vai-se a toda parte e percorre-se familiarmente<br />
toda a escala social,<br />
desde os bailes da princeza imperial,<br />
até as bacchanaes das irmandades<br />
carnavalescas.<br />
Aqui é assim. Emquanto o José<br />
das enxundias sobe as escadarias do<br />
Cassino, muito atrapalhado com o<br />
seu claque, as suas luvas e os seus<br />
joanetes, Pedro Américo e Carlos Gomes<br />
as descem enxotados dela, como<br />
cães.<br />
E o certo é que o demônio do Portella<br />
tinha um typo que 6e prestava<br />
maravilhosamente ás suas aspirações.<br />
Ninguém daria melhor um commendador.<br />
Ninguém como elle sabia<br />
fallar sem dizer, ver sem olhar e<br />
gargalhar sem rir. Desde que lhe<br />
pingou a tal historia ao peito, que o<br />
homem principiou a soffrer transformações<br />
diabólicas. Caminhava o<br />
MYSTERIO DA TIJUCA 191<br />
ventre, empinava-se a cabeça, esticavam-se<br />
as pernas e dilatavam-se os<br />
lábios n'esse risinho discreto e malicioso<br />
dos homens condecorados.<br />
Uma vez raspado o bigode, talhada a<br />
suissa e encanecidos os cabellos da<br />
cabeça, terá o leitor defronte dos<br />
olhos o mesmo pretencioso commendador,<br />
com quem tão boas relações<br />
travou logo no primeiro capitulo do<br />
romance.<br />
Mas emquanto não chegamos a<br />
esse ponto, vamos esmiuçando as<br />
circumstancias que o precederam ; e,<br />
como já temos o commendador Ferreira,<br />
seja-nos permittido continuar<br />
a tratar o segundo da mesma fôrma<br />
porque o tratávamos antes do titulo.<br />
Continuará a ser Portella.<br />
— Porém o tal documento?! E a promessa<br />
do João Rosa, ficam no tinteiro<br />
?! E' o que sem duvida tem vontade<br />
de perguntar o leitor, e por isso<br />
vamos tratando de nos descartarmos,<br />
o mais depressa possível, desse compromisso.<br />
Quando Portella chegou ao Rio,<br />
justamente na occasião em que o commendador<br />
se via atrapalhado com a<br />
moléstia da filha, João Rosa ficou<br />
exclusivamente encarregado dos negócios<br />
do pae de Olympia.<br />
Não podia desejar melhor occasião<br />
para cumprir o que promettêra ao<br />
amigo ; a casa estava toda em suas<br />
mãos ; ninguém o iria surprehender,<br />
e João Rosa por conseguinte começou<br />
a procurar os taes documentos<br />
com toda a calma e toda a segurança.<br />
E com tanto geito e minuciosidade<br />
remecheu e revirou as gavetas e os<br />
segredos do patrão, que, em vez de<br />
achar o que procurava, achou cousa<br />
muito melhor—um pequeno estojo<br />
quadrado, de ferro, escondido cuida-