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Baixar - Brasiliana USP

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Mal porém tinham feito uns quarenta<br />

passos, e já o ultimo se havia enfiado<br />

pela porta de um café, que ficava<br />

na esquina, e sahido pela porta<br />

da outra rua, emquanto Rosa mais<br />

adiante o procurava com a vista.<br />

Pedro Ruivo ganhou a primeira<br />

rua da cidade nova, metteu-se no<br />

primeiro bond que passou, e seguiu<br />

para o Rio Comprido. Só parou defronte<br />

da antiga Avenida Estrella.<br />

"Elle não conhecia ninguém alii, mas<br />

o aspecto do logar pareceu-lhe magnífico<br />

para um segredo. Entrou.<br />

A Avenida Estrella é uma velha<br />

chácara situada ao sopé de umas<br />

montanhas que ficam á esquerda de<br />

quem sobe o Rio Comprido. Ha na<br />

entrada um grande portão de ferro,<br />

talhado entre um extenso gradeamento,<br />

onde de espaço a espaço<br />

avultam columnas de pedra e cal,<br />

quadradas e encimadas por uma espécie<br />

de tullipa aberta para o céu.<br />

Algumas d'essas columnas despiram-se<br />

já do estuque e mostram a<br />

côr da pedra e a côr do barro; em<br />

outras nota-se a ausência do capitei,<br />

e a queda das ei malhas.<br />

Mas quem entra na avenida Estrella<br />

esquece-se de tudo isso, arrebatado<br />

pela exuberante vegetação<br />

que o cerca.<br />

De todos os lados a mesma pujança<br />

e a mesma opulencia da natureza.<br />

Os montes afogam-se em um oceano<br />

de verdura; as arvores amontoamse<br />

de longe, accumuladas uma sobre<br />

outras, formando matizes admiráveis<br />

e planos, que se vão amortecendo,<br />

á proporção que se afastam de<br />

nossos olhos; até se confundirem com<br />

a violeta das longínquas serras, que,<br />

lá no extremo do horisonte, desapparecem<br />

por entre os vapores do céo.<br />

MYSTÉRIO DA TIJUCA 91<br />

Principia a chácara por um renque<br />

de palmeiras, que parecem brotar dos<br />

massiços eercilhadosda murta e das<br />

moitas compactas de margaridas.<br />

Estes massiços formam pequenas<br />

ruas, que se entranham pela chácara<br />

e vão dar aos taboleiros de hortaliça<br />

e as vallas de agrião. Depois é que<br />

surge a velha escadaria de pedra rajada,<br />

e afinal o casarão antigo, mysterioso<br />

e triste, como um castello<br />

abandonado da edade média.<br />

Pedro Ruivo enveredou por uma<br />

d'aquel!as ruas e caminhou atoa por<br />

entre a verdura. Quando se julgou<br />

em logar seguro, pousou no chão o<br />

cofre e principiou a contemplal-o,<br />

assentado ao seu lado —• O que estaria<br />

alli dentro ?! — papeis sem duvida<br />

! mas papeis que valiam pelo<br />

menos um conto de réis para o com-,<br />

mendador Portella.<br />

E Pedro Ruivo, sem conseguir domar<br />

a fantasia, principiou a fazer soberbos<br />

castellos de fortuna, entre os<br />

quaes se sonhava nadando em muito<br />

dinheiro— Era impossível que alli só<br />

estivessem os taes documentos, que<br />

sobresaltavam o commendador! Não,<br />

com certeza havia muito mais! O cofre<br />

não era tão pequeno! O peior é que<br />

Ruivo não o conseguia abrir — as<br />

quatro faces lisas d'aquella maldita<br />

caixa não apresentavam o. menor<br />

signal de fechadura, não tinham o<br />

menor indicio por onde se devia<br />

abrir. Eram quatro lâminas de aço,<br />

formando u mperfeito parallelepipedo.<br />

Havia alli com certeza algum segredo<br />

subtil, alguma mola, com' a qual<br />

o gatuno não atinava. E o Ruivo,<br />

possuído inteiramente pela sua preza,<br />

olhava-a por todos os lados, experimentava-lhe<br />

todos os cantos, sem<br />

conseguir descobrir cousa alguma.

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