Baixar - Brasiliana USP
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164 MYSTERIO DA TIJUCA<br />
Ferreira, quando o homem cambaleou,<br />
cambaleou, e cahiu como morto.<br />
— Uma congestão! exclamou Thereza<br />
em sobresalto.—E depois, como<br />
ficou elle? !<br />
— Dr. Roberto está lá.<br />
— Dá-me a capa, ti'Agueda — vou<br />
já para casa.<br />
E Thereza agradecia interiormente<br />
ao marido aquella moléstia, que vinha<br />
de qualquer fôrma desviar as attenções<br />
assestadas sobre ella.<br />
— Mas também, para se apresentar<br />
assim em casa, sem mais nem menos,<br />
era o diabo! considerava a rapariga,<br />
emquanto ajustava o chapéu e endireitava<br />
a roupa.—Olympia sem duvida<br />
estava lá! O que não ficariam<br />
julgando de tudo aquillo?!<br />
— Ora! concluiu ella completamente<br />
resolvida—é preciso tomar<br />
uma deliberação! Luiz afiançou-me<br />
que Ferreira está disposto a receber-me<br />
— vou! Não tenho outro recurso;<br />
além d'isso já estou arrependida<br />
!... Agora é ter coragem !<br />
E depois de abraçar a ama e agradecer-lhe<br />
os obséquios recebidos,<br />
metteu-se no carro, que se fora buscar,<br />
e mandou tirar para casa.<br />
A proporção porém que se approximava,<br />
o coração se lhe ia retrahindo<br />
e a coragem minguando. Thereza tinha<br />
defronte dos olhos a physionomia<br />
reprehensiva de Olympia, o riso<br />
sarcástico de Jacob e arecriminadora<br />
figurado commendador; mas contava<br />
com o auxilio de Rosa, a criada<br />
que lhe remettêra a roupa, que lhe<br />
protegera sempre os amores de Portella<br />
e que n'aquellao ccasião já estaria<br />
sem duvida á sua espera no portão<br />
trazeiro da chácara.<br />
Rosa era muito discreta e muito<br />
fina; falcatruas arranjadas por ella<br />
tinham sempre um bom resultado.<br />
Thereza dava-lhe roupas, vestidos<br />
pouco usados, sapatos ainda novos,<br />
leques á moda, mandara ornar-lhe a<br />
cama com um cortinado e dispensára-lhe<br />
um dos tapetes de seu quarto.<br />
Sabia que a criada usava de seus perfumes,<br />
de seus sabonetes e de seus<br />
cosméticos, mas fechava os olhos a<br />
tudo isso e intercedia por ella. sempre<br />
que o commendador a aceusava.<br />
O carro afinal parou defronte do<br />
portão, e Thereza apeiou-se, ligeiramente<br />
tremula.<br />
Seriam oito horas da manhã e o dia<br />
estava magnífico.<br />
LIX<br />
DO PORTÃO AO QUARTO<br />
Ficou por um instante á porta, sem<br />
querer entrar. A chácara apresentava-lhe<br />
uma physionomia reprehensiva<br />
e severa; a casa, as arvores,<br />
o repuxo do tanque, tudo tinha<br />
então um aspecto de censura e de<br />
queixa.<br />
A luz penetrante e indiscreta do sol,<br />
derramando-se petulantemente por<br />
todos os escaninhos da alma. parecia<br />
ralhar,arguir, fazer reprovações. Toda<br />
a natureza aconselhava com a sua<br />
mudez austera, com a sua sisudez de<br />
mulher honesta.<br />
Thereza sentia-se envergonhada,<br />
corrida, não tinha animo de levantar<br />
a cabeça. Os empregados públicos<br />
desciam para os seus empregos, devagar,<br />
no passo methodico dos homens<br />
que regulam a vida pelo ordenado,—o<br />
palito na boca, o guarda<br />
chuva debaixo do braço, a roupa<br />
limpa ; a caminharem na inalterabilidade<br />
dos funecionarios públicos<br />
pagos por mez. Passavam os bonds,