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Baixar - Brasiliana USP

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fructo, que sè baptisou com o nome<br />

de Gregorio.<br />

Por esse tempo Leão Vermelho era<br />

ameaçado de perder o seu emprego e<br />

correu para a capital, com a intenção<br />

de collocar-se sob a protecção immediata<br />

do ministro da marinha.<br />

Nada obteve; e, em um assomo de<br />

raiva, arrancou as dragonas e fez<br />

presente d'ellas ao rei, pedindo que<br />

lhe dessem quanto antes a demissão<br />

ófa armada.<br />

N'isso foi logo attendido. E então,<br />

desempregado, aborrecido, tendo de<br />

prover á subsistência da família, Leão<br />

Vermelho, resentidocom a sua pátria<br />

e com o seu governo, resolveu aventurar-se<br />

em um navio mercante e<br />

partir para o Brazil.<br />

Mas antes de ir era preciso dar<br />

um pulo ao Porto, tranquillisar a<br />

mulher e abraçar o filho.<br />

Não gastou muito tempo com isso,<br />

e já na occasião de partir, á bordo,<br />

no segredo de seu beliche, abraçou<br />

seu antigo criado, aquelle que nunca<br />

o abandonara, e disse-lhe com os<br />

olhos cheios d'agua — Tubarão !<br />

confio-te minha mulher e meu filho;<br />

não os percas de vista. Sei que és<br />

louco pelo pequeno e podes servil-o<br />

de muito.<br />

Depois approximou-se mais d'elle<br />

e disse-lhe em segredo alguma cousa,<br />

que o fez estremecer ligeiramente.<br />

— Pôde ir descansado, capitão!<br />

Respondeu o ex-grumete, fazendo um<br />

movimento de confiança em si — Prometto<br />

que cumprirei as suas ordens 1<br />

— Então toma; é o presente que<br />

te deixo.<br />

E passou-lhe um embrulho, que<br />

tirou do bolso.<br />

— Obrigado! disse Tubarão, a examinar<br />

o objecto que recebera.<br />

MYSTERIO DA TIJUCA 53<br />

Era uma boa navalha de marinheiro.<br />

XXI<br />

ALGAS<br />

Tubarão deixou á bordo o seu antigo<br />

commandante e voltou cabisbaixo<br />

e triste para casa. As ultimas palavras,<br />

que lhe segredara o Leão Vermelho,<br />

obrigavam-no a cahir em meditações<br />

de sabor estranho e amargoso.<br />

— Não! Não é possível 1... Resmungava<br />

elle comsigo— O capitão<br />

não tem razão! São desconfianças!<br />

Não pôde deixar de ser!<br />

Pois elle podia lá acreditar que a<br />

Sra. D. Cecília, tão meiga, tão simples,<br />

fosse lá capaz d'isso? I—Não!<br />

Definitivamente o capitão não tinha a<br />

cabeça no logar quando lhe recommendou<br />

que vigiasse a mulher!<br />

E d'esta fôrma, ia o Tubarão caminho<br />

de casa, a gesticular comsigo<br />

no seu monólogo.<br />

N'esse tempo teria elle vinte e oito<br />

annos. Era então uma bella estampa,<br />

destro e rijo, affeito aos temporaes e<br />

ás duras fadigas do oceano. A vida<br />

do mar dera-lhe á physionomia<br />

aquelle ar contemplativo e doce, que<br />

se nota quasi sempre nos marujos.<br />

E' como se lhes fosse accumulando<br />

no semblante o resaibo de velhas<br />

saudades da pátria e dos amores que<br />

ficam em terra.<br />

O marinheiro é fatalmente generoso<br />

e bom; ama seus semelhantes,<br />

tem dos homens uma idéa elevadíssima,<br />

porque não os conhece: entre<br />

elles antepõe o oceano seus abysmos,<br />

onde não chegam as paixões, o egoís­<br />

mo, a vaidade. O aspecto imponente<br />

do mar fortalece e alarga o coração ;

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