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Baixar - Brasiliana USP

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desavenças no seio da família do<br />

amante, ella puxou a filha para si<br />

e afastou-se, deixando que o apaixonado<br />

velho tragasse no segredo<br />

de seu desespero as dores lancinantes<br />

da soledade.<br />

Vieram logo os padecimentos do<br />

corpo, a aggravação das enfermidades<br />

adormecidas até ahi ; e o conde<br />

cahio prostrado no leito em que tinha<br />

de expirar. O filho em Coimbra ; as<br />

filhas, uma casada e longe com o<br />

marido ; a outra recolhida ao convento,só<br />

lhe restavam fâmulos e enfermeiros<br />

de aluguel.<br />

Lembrou-se então de escrever a<br />

um seu velho amigo, que n'outro<br />

tempo fizera com elle as campanhas<br />

contra os franc -zes. lira um veterano<br />

reformado com a patente de coronel,<br />

e que ha seis annos descansava em<br />

terras que possuia no Porto.<br />

Foi um espalhafato a sua chegada<br />

no castello do conde. Os dois velhos<br />

precipitaram-se nos braços um do<br />

outro e começaram a chorar como<br />

duas crianças. O conde não podia<br />

pronunciar palavra; ns lagrimas corriam-lhe<br />

em borbotão pelas barbas<br />

brancas. E todo tremulo, a soluçar,<br />

humilhado pela nimiedade daquella<br />

commoção, sentio faltarem-lhe as<br />

derradeiras forças e cahio agonisante.<br />

O coronel, estonteado pela situação,<br />

maldizen Io a idéa de apresentar-se<br />

tão de sorpreza, procurava<br />

consolar o amigo, pedia-lhe que socegasse<br />

um instante, e jurava não<br />

abandonal-o tão cedo.<br />

— Sim! Meu velho camarada!<br />

Fica !Estou muito abandonado. Preciso<br />

de alguém que me ajude a morrer<br />

na fé em que me criei ! Não te<br />

roubarei muito tempo. E's o único<br />

que ainda vive dos nossos bellos<br />

MYSTERIO DA TIJUCA<br />

tempos da mocidade! Bem dizia eu<br />

cá commigo que não faltarias á entrevista<br />

de minha morte! Obrigado!<br />

Obrigado, amigo velho !<br />

Mas o coronel pouco tempo teve<br />

de ficar ao lado de seu velho camarada.<br />

O conde morreu quatro dias<br />

depois que elle chegou ao castello.<br />

Assistiram-lhe os sacramentos ; o<br />

moribundo bebeu as palavras untuosas<br />

do confessor, com a voluptuosidade<br />

de quem bebe um bom<br />

vinho — parecia confortado e dis-<br />

1 posto a deixar o mundo em paz. E'<br />

que naturalmente elle antevia as<br />

auroras d'aquella vida d'além túmulo,<br />

de que falíamos no principio<br />

d'este capitulo.<br />

Antes, porém, de morrer, converi<br />

sou largamente com o amigo a respeito<br />

dos seus, que deixava — Meus<br />

i filhos legítimos, disse elle — estão<br />

abrigados por natureza, têm o que<br />

herdar e não lhes faltará logar na<br />

sociedade. Mas eu tenho uma filha<br />

natural, uma filha que adoro e que,<br />

J apezar da ingratidão com que ella<br />

e a mãi me deixaram n'este isola-<br />

1 mento, não me sahe da memória um<br />

i<br />

i só instante. Tu já sabes de quem fallo.<br />

— Pois bem ; pensa um pouco em<br />

! Cecília; a infeliz pode algum dia pre-<br />

! cisar de teus soecorros. Guarda bem<br />

esta recommendação ; eu sei porque<br />

t'a faço. Deixo-lhe alguma cousa,<br />

mas receio que a mãe não saiba ou<br />

não queira que isso aprovejte á filha.<br />

Por conseguinte, meu velho amigo,<br />

segue-a com a tua experiência — é o<br />

1 único serviço que te imploro para<br />

j depois de minha morte.<br />

— Dsscança, respondeu o coronel<br />

(—prometto que farei o que me recommendas.<br />

— Bem ! Posso então fechar os

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