Baixar - Brasiliana USP
Baixar - Brasiliana USP
Baixar - Brasiliana USP
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
monótona, com que tantas vezes<br />
adormecera.<br />
Quando Tubarão acabou soluçando<br />
a ultima estrophe de sua cantiga, reparou<br />
que perto de si estava a louca,<br />
que ali viera attrahida por uma vaga<br />
reminiscencia das suas tardes de verão.<br />
E*.Ii também chorava, mas o<br />
seu pranto era alheio e estranho<br />
como o seu riso.<br />
Veio o medico mais tarde e declarou<br />
que a doente precisava sahir<br />
d'aquella casa para se poder tratar.<br />
Tubarão não sabia o que havia de<br />
fazer, procurou fallar ao amo, mas<br />
este soltára-lhe um formidável grito<br />
e recommendára que o deixassem<br />
em paz. Depois tornou a fechar a<br />
porta do quarto e não appareceu a<br />
ninguém mais n'esse dia.<br />
Em taes apuros sahiu de casa o<br />
marinheiro para providenciar sobre o<br />
que mais urgia ; quando, ao dobrar<br />
uma esquina, dá cara a cara com<br />
Margarida, que passeiava pelo braço<br />
do marido.<br />
— E'o Tubarão! Exclamou o conde,<br />
quando o marinheiro approximou-se<br />
d'elle.<br />
— Creioquesim ! Porque eu mesmo<br />
já não sei por onde anda o meu pobre<br />
bestunto!<br />
— Você já não mora em companhia<br />
de Cecilia? Perguntou Margarida.<br />
— Pois é por causa d'ella mesmo<br />
que estou n'esta dobadoura.<br />
E o marinheiro em poucas palavras<br />
contou o que havia.<br />
— Conde! Depressa, gritou a boa<br />
senhora—corramos a soccorrer a pobre<br />
Cecilia ! O conde deu-lhe o braço<br />
e seguiram todos para a casa de Leão<br />
Vermelho.<br />
Margarida havia chegado na vés<br />
MYSTÉRIO DA TIJUCA 83<br />
pera ao Porto, e tinha de partir d'ahi<br />
a três dias.<br />
O medico aconselhara ao marido<br />
que a fizesse viajar, e o conde, que<br />
adorava a mulher, tremia só com a<br />
idéa de que a ella voltassem os antigos<br />
padecimentos.<br />
Mas d'esta vez era necessário um<br />
clima mais quente, e, como Margarida<br />
não se dava bem cornos ares da<br />
Itália, ficara resolvido que o ventur<br />
roso casal se passaria para o Brazil.<br />
O conde chamou um carro que<br />
passava na occasião, e d'ahi a pouco<br />
eram conduzidos pelo marujo ao lado<br />
da louca. Cecilia não os reconheceu,<br />
ou pelo menos não mostrou o menor<br />
interesse em , tornar a vêl-os. Leão<br />
Vermelho atirou-se nos braços do<br />
amigo, e então desabafou em lagrimas<br />
o desgosto que se lhe havia<br />
accumulado no coração — Sou um<br />
desgraçado! disse elle, com a cabeça<br />
no peito do conde — imaginei que o<br />
casamento me traria a paz da velhice<br />
e a consolação para as injustiças<br />
que recebi de toda parte,<br />
quando elle só servio para me acarretar<br />
novos dissabores e para me<br />
amargurar de todo a existência.<br />
O conde interrogou por vários modos<br />
o commandante, mas este não<br />
lhe quiz darexplicações. Ficou decidido<br />
que Cecilia entraria para uma<br />
casa de alienados e passaria, quando<br />
melhorasse, para o convento de Santa<br />
Clara; e quanto a Gregorio a condessa<br />
o reclamou para si e encarregou-se<br />
de educal-o.<br />
D'ahi a três dias estava tudo prompto.<br />
O conde seguia com a esposa e<br />
o pequenito para o Brazil,e Leão Vermelho,<br />
acompanhado de seu fiel marinheiro,<br />
tomava passagem para as<br />
Antilhas hespaaholas, onde tencio-