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Baixar - Brasiliana USP

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sua utilidade immediata. Não havia<br />

os preguiçosos divans, que conduzem<br />

á volúpia e ao dolce far niente, não<br />

havia as dúbias cadeiras, que obrigam<br />

o corpo a uma posição enervante e<br />

sem ceremonia.<br />

Sentia-se que aquellesobjéctos não<br />

se dariam bem com a conversa decotada<br />

de rapazes estroinas; que aquellas<br />

cortinas nunca encardiram com o<br />

fumo do cigarro, e que aquelle ar tepido<br />

e balsamico nunca fora deslocado<br />

com o estouro pândego de uma<br />

garrafa de champagne.<br />

Gregorio transpoz a porta d'aquelle<br />

sanctuario, inteiramente penetrado<br />

pela alma mysteriosa, que d'ahi se<br />

evaporava como o perfume religioso<br />

de um templo.<br />

A condessa,assentada junto á mesa,<br />

lia um grosso volume de capa azul<br />

á luz velada de um condieiro de alabastro.<br />

Vestia uma roupa inteira e afogada<br />

de casimira indiana, e tinha a cabeça<br />

resguardada por uma touca de rendas<br />

de Valença. Não se lhe via luzir<br />

uma jóia.<br />

Ao lado, em uma cadeira mais<br />

baixa, bordava a filha, toda preoccupada<br />

como seu trabalho.<br />

Maria Luiza, é este o nome da menina,<br />

teria dezesete annos, não travessos<br />

e ruidosos, mas angélicos e<br />

tranquillos, como tudo que a cercava.<br />

A' luz do candieiro destacava-se<br />

bem a sua cabecinha loura, redonda<br />

encimada pelas trancas, que a envolviam<br />

á moda das velhas estatuas<br />

gregas. Sentia-se o azul de seus<br />

olhos por debaixo das palpebras<br />

abaixadas sobre o trabalho.<br />

Não houve o menor alvoroço com<br />

a entrada de Gregorio. A condessa<br />

marcou com uma fita a pagina que<br />

MYSTERIO DA TIJUCA 13<br />

lia, e pousou de vagar o livro sobre<br />

a mesa; depois estendeu a mão para<br />

o moço e, com um sorriso muito<br />

amável, offereceu-lhe um logar perto<br />

de si, emquanto o conde o apresentava<br />

ás duas senhoras.<br />

— Minha mulher e minha filha,<br />

disse o velho depois,indicando as duas.<br />

Gregorio comprimentou-as, possuído<br />

de um forte sentimento de<br />

respeito, e foi sentar-se ao lado da<br />

condessa.<br />

— Até que afinal o temos comnosco,<br />

disse ella descançadamente.<br />

E, voltando-se mais para elle, accrescentou,<br />

fazendo um ar serio: —fui<br />

muito amiga de sua mãe! Era uma<br />

excellente pessoa; entre outros obséquios,<br />

devo-lhe a vida!<br />

— O Sr. conde já teve a bondade<br />

de contar-me isso mesmo, disse Gregorio<br />

um pouco perturbado.<br />

— Sim, volveu a condessa. — Eu<br />

própria lhe havia recommendado que<br />

o fizesse.<br />

E depois de dar a entender á filha<br />

que se retirasse:<br />

— Não temos tempo a perder. O<br />

conde naturalmente já lhe fallou sobre<br />

a herança de seu pae, não é verdade?<br />

— Sim, minha senhora.<br />

— E está disposto a partir?<br />

— Amanhã mesmo.<br />

— Bem, n'esse caso darei d'aqui a<br />

pouco as providencias para a viagem,<br />

por emquanto fallemos do senhor.<br />

ENTRA A POLICIA<br />

Justamente no dia do malogrado<br />

casamento de Gregorio, o Dr. Ludgero,<br />

então chefe de policia da corte,<br />

acabava de entrar na casa de sua re'

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