Baixar - Brasiliana USP
Baixar - Brasiliana USP
Baixar - Brasiliana USP
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
coração algum resíduo d'essas virtudes<br />
— permitta, por quem é, permitta<br />
pelo amor que tem naturalmente<br />
ao ente que lhe sahiu<br />
das entranhas, que eu abrace meu<br />
pobre filhinho ! Estou convencido<br />
que as lagrimas de um pai desgraçado<br />
não terão em resposta a indifferençaeo<br />
desprezo... Oh! só agora<br />
acredito na cólera divina !»<br />
Seguiam-se ainda algumas considerações<br />
sobre a fatalidad;, sobre o<br />
destino e outros pretextos de que se<br />
costumam servir os seductores vulgares<br />
e os apaixonados vadios, e terminava<br />
a carta por um formidável<br />
—adeus, com ponto de admiração, e<br />
depois a assignatura.<br />
Pedro Ruivo contava como certo o<br />
effeito daquelle chorrilho de banalidades.—Em<br />
lendo isto, calculava elle<br />
—as lagrimas saltam-lhe dos olhos,<br />
e Cecília abre-me os braços no delírio<br />
da paixão. E se assim não fosse, para<br />
que diabo servia a gente se matar á<br />
aprender um bocado de rethorica? !<br />
Mas Ruivo enganou-se na sua previsão—Cecília<br />
leu a carta sem se commover,<br />
e tomou a resolução de não<br />
responder cousa alguma.<br />
Depois de cinco dias encontraramse<br />
de novo na rua. Mas d'esta vez o<br />
Ruivo não esperou que ella o lobrigasse,<br />
fai ao seu encontro. Ainda<br />
soffreu uma decepção, porque tinha<br />
como certo o sobresalto e o espanto<br />
de Cecília, quando ella aliás falloulhe<br />
sem se perturbar absolutamente.<br />
— Que frieza !... Disse comsigo o<br />
rapaz, mordido no seu amor próprio.<br />
E para se consolar procurou descobrir<br />
n'aquella própria indifferença<br />
um cunho deaffectação, que signifi<br />
cava o medo que elle fazia a Cecília.<br />
MYSTER10 DA TIJNCA 75<br />
— Não quiz então responder á<br />
minha carta?<br />
— Não, senhor.<br />
— E porque ?<br />
— Porque entendi que não devia<br />
responder.<br />
— Não consente então que eu de<br />
vez em quando abrace esta criança?...<br />
— Não, para que?!<br />
— Para que?! Ora essa! Porque<br />
é meu filho!<br />
— O senhor está gracejando c»m<br />
certeza!...<br />
— Cecília! Nega que eu seja pae<br />
de seu filho?!<br />
— Com licença. Adeus.<br />
E Cecília afastou-se muito tranquillamente.<br />
Pedro Ruivo ficou deveras massado<br />
com aquella indiferença—Além<br />
de tudo, pensou elle, gesticulando<br />
sosinho—ella tem a coragem de negar<br />
que sou eu o pae do pequeno!... Ora<br />
esta! Confesso que não a suppunha<br />
tão fina!<br />
E depois de escogitar um plano de<br />
ataque, bateu com a mão na testa , e<br />
exclamou — Ah! Tenho uma idéa!<br />
XXIX<br />
CONSEQÜÊNCIAS<br />
O plano de Pedro Ruivo era atemorisar<br />
Cecilia,ameaçal-a de um escândalo,<br />
obrigal-a a ceder pelo medo.<br />
Aquelle homem, que desprezara a<br />
occasião em que a bella rapariga<br />
abriu-lhe francamente a alma, impregnada<br />
de todos os perfumes da<br />
innocencia e do amor, sentia-se agora<br />
estimulado grosseiramente por um<br />
desejo ardente de possuil-a. A mesma<br />
physionomia, os mesmos olhos,<br />
a mesma bocca, o mesmo cabello,<br />
tudo que d'antes lhe parecia yulgàr