Baixar - Brasiliana USP
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50 MYSTERIO DA TIJUCA<br />
perguntou-lhe brandamente, quasi<br />
com ternura:<br />
— Tu és capaz de desempenhar<br />
uma commissão de que te quero encarregar<br />
?!<br />
— Sempre fui. Adiante!<br />
— Trata-se de despachar o Ruivo,<br />
mas de modo que ninguém venha a<br />
suspeitar de ti, e muito menos de<br />
mim...<br />
— Já se vê!<br />
— Mas onde o terás a geito ? !<br />
— Isso indaga-se! Sei que elle é<br />
empregado nos armazéns de rape de<br />
Paulo Cordeiro.<br />
— Mas como se arranjará o negocio<br />
? Sabes que estas cousas não se<br />
podem fazer no ar...<br />
— Deixe tudo por minha conta!<br />
— O que tencionas fazer?<br />
— Não se importe com isso ! Amanhã<br />
mesmo fallo ao Tubarão.<br />
— Máo ! Já tu queres metter mais<br />
um na historia. O melhor era fazeres<br />
tudo por ti.<br />
— Mas eu havia de não fallar ao<br />
Tubarão?! Vocemecê bem sabe que<br />
não podemos fazer nada sem combinarmos<br />
primeiro os dous. Foi o nosso<br />
trato! Nada! Juramos sobre as horas<br />
mariannas! Quando elle tem qualquer<br />
cousa diz-me logo; equando eu<br />
tenho, também lhe digo ! Não ! Não<br />
sou homem de tratar uma cousa e<br />
fazer outra! O trato é trato !<br />
— E' o diabo ! E' mais um que fica<br />
sabendo da cousa!...<br />
— Quem?! O Tubarão?! Ora, senhor!<br />
Então você não sabe o que<br />
está ali! Aquillo é fazenda muito boa!<br />
Não ! Por esse lado não tenha receios !<br />
O Tubarão é cousa séria. D'alli não<br />
sahe um pio, quando é preciso guardar<br />
segredo !<br />
— Vê lá o que vais fazer!...<br />
— Deixe por minha conta, já lhe<br />
disse ! Descance que tudo se fará, se<br />
Deus quizer!<br />
O commendador acabou por concordar,<br />
e Talha-certo na seguinte<br />
noite encontrou-se com o companheiro<br />
á mesa de um café, como vimos<br />
pelo capitulo XI.<br />
Esse companheiro era o Tubarão,<br />
cujo papel n'este romance é talvez<br />
mais importante do que suppõe o<br />
leitor, que ainda não sabe o que ha<br />
de commum entre o commendador e<br />
o Ruivo.<br />
XX<br />
TUBARÃO<br />
O Tubarão, o tal sujeito que cavaqueára<br />
com o fâmulo do Portella no<br />
café da menina do bandolim, era um<br />
homem de grande corpo, costas largas,<br />
um pouco vergadas, o que lhe<br />
dava ao todo o aspecto bonanchão do<br />
burguez, que só conhece duas preoccupações<br />
—o negocio e a família.<br />
Pelo seu ar modesto e pacifico ninguém<br />
calcularia que estivesse alli o<br />
homem de maior força muscular do<br />
Rio de Janeiro.<br />
Contavam-se muitos episódios de<br />
sua vida, que deixavam em grande<br />
distancia as façanhas do Nogueira<br />
lutador, do Cá-te-espero e outros<br />
famigerados pulsos, dos quaes resam<br />
algumas costellas e vários narizes<br />
a mais inexcureavel das memórias.<br />
De uma feita, o commendador<br />
Ascolle e o Dr. Figueiredo, que sentiam<br />
pelo Tubarão o interesse que<br />
experimentamos por um bello phenomeno,<br />
quizeram medir-lhe toda a<br />
extensão da força de um soco e<br />
para isso puzeram á sua disposição<br />
um desses dinamometros, vulgar-