Baixar - Brasiliana USP
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esse, e terminada a narração corriam-lhe<br />
as lagrimas dos olhos —<br />
com mil raios! exclamou elle afinal<br />
— ha muito homem ruim n'este<br />
mundo !<br />
. E tendo reflectido um instante,<br />
perguntou se Gregorio não era então<br />
filho do commandante.<br />
— Não ! respondeu Cecilia —não é.<br />
— Raios me partam I que não sei<br />
o que faça ! A senhora devia ter<br />
declarado isso logo, no momento de<br />
se casar.<br />
— Faltou-me a coragem, meu<br />
amigo.<br />
— Agora, ou hei de mentir ao patrão,<br />
ou tenho de accusal-a, o que<br />
deveras me faz pena, porque no fim<br />
de contas todo o culpado é aquelle<br />
maroto. Ah ! Elle é que devia receber<br />
uma boa lição. E ha de recebel-a ou<br />
eu não sou quem sou!<br />
Cecilia, quando o Tubarão se despedio,<br />
recolheu-se ao quarto muito<br />
incommodada. A' noite apparecefam-lhe<br />
febres, e no dia seguinte não<br />
se pôde levantar da cama.<br />
Entretanto o marinheiro em balde<br />
procurou encontrar-se com Pedro<br />
Ruivo. Este nem só faltara a entrevista<br />
de que fallaram os dous homens<br />
da taverna. como não apparecia em<br />
parte alguma ; só no fim de quinze<br />
dias constou que elle já não estava<br />
no Porto.<br />
—O velhaco parece que adivinhou!<br />
disse comsigo o Tubarão, e adiou para<br />
' mais tarde o que reservava para o<br />
Ruivo. — Mas não pôde ficar tranquillo<br />
; Cecilia, continuava doente,<br />
desde o dia em que o rude marinheiro<br />
forçou-a a contar a historia de sua<br />
falta.<br />
— Fui um bruto! considerava o pobre<br />
Tubarão, no meio de seus remor-<br />
11<br />
MYSTERIO DA TIJUCA 81<br />
sos—devia ter feito a cousa de outro<br />
modo. — Fui logo as do cabo!<br />
arre!<br />
E para penitenciar a falta que commettera,<br />
desfazia-se em desvelos<br />
com a enferma.<br />
A moléstia, porém, não cedia, e o<br />
medico de Cecilia principiava a desanimar.<br />
Assim correram dois mezes e meio,<br />
até que a chegada inesperada do<br />
commandante veio transtornar completamente<br />
a situação. Leão Vermelho<br />
trazia comsigo uma carta anonyma<br />
em que lhe patenteavam as<br />
culpas da mulher. Pedro Ruivo cumprira<br />
a sua promessa, Cecilia estava<br />
denunciada. O commandante, que<br />
vivia já sobre desconfiado com a primeira<br />
carta, surprehendida nas mãos<br />
da esposa, acabou por se julgar trahido<br />
e ultrajado; principalmente á<br />
vista dos sobresaltos da aceusada,<br />
quando ouviu fallar do crime de que<br />
era suspeita, e a vista dos embaraços<br />
de Tubarão, quando o amo o interrogou<br />
sobre o que se passara com<br />
Cecilia na sua ausência.<br />
— E's um canalha! Bradou-lhe o<br />
commandante, quando percebeu que<br />
Tubarão não lhe contava tudo o que<br />
sabia.<br />
— Serei, com mil raios! Mas não<br />
abro a bocca para dizer uma palavra<br />
!<br />
— E's então o cúmplice d'aquella<br />
miserável ?!<br />
— Não ! Sou o cão, que lhe guarda<br />
a porta. Ninguém entra alli para<br />
fazer-lhe mal!<br />
Ouviu-se então uma gargalhada<br />
estranha. E o vulto de Cecilia, pallido<br />
e transformado, assomou á porta<br />
de seu quarto.<br />
Parecia vir da sepultura.