Baixar - Brasiliana USP
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consciência de um grande peso e,<br />
sem dar uma palavra, pendurou-se<br />
ao pescoço do rapaz e ficou a olhar<br />
para elle, com a voluptuosidade de<br />
quem bebe com muita sede. Depois<br />
principiou a conversar, disse que<br />
estivera arriscada a não poder vir ter<br />
com elle. Todos pareciam combinados<br />
para contrarial-a. Narrou pormenores,<br />
contou as pequeninas circumstancias<br />
que precederam a sua<br />
sahida de casa.<br />
Portella ouvia tudo aquillo com<br />
muito interesse,mas o seu sobresalto,<br />
longe de diminuir com a chegada de<br />
Thereza, avultava cada vez mais.<br />
— Ella felizmente tinha uma amiga<br />
intima, uma rapariga de muita confiança,<br />
que fora sua companheira de<br />
collegio, e a quem revelara todo o<br />
segredo de seus amores.<br />
— O que?! Perguntou Portella contrariado—Pois<br />
metteste mais alguém<br />
n'este negocio?!<br />
— Ah! E' que tu não conheces a<br />
Chiquinha, d'aquella não temos que<br />
receiar cousa alguma. Não! Lá por<br />
esse lado estou segura !<br />
— Siin, sim, volveu o rapaz, cada<br />
vez mais preoccupado—mas é que as<br />
cousas transformam-se de um dia<br />
para o outro. Quem nos dirá a nós<br />
que a tua Chiquinha seja sempre a<br />
mesma discreta!...<br />
Thereza censurou aquelles receios<br />
do amante—O' homem, disse ella—<br />
você também tem medo de tudo!<br />
Safa! nem eu que sou uma mulher!<br />
Ah! se eu fosse um homem!<br />
— Mas bem, disse elle—como afinal<br />
conseguiste vir?..<br />
— A Chiquinha foi buscar-me a<br />
casa para darmos um passeio. Eu<br />
estou passando o dia com cila.<br />
— Sim, mas isso é um expediente<br />
MYSTERIO DA TIJUCA 141<br />
de que se não poderá abusar. No fim<br />
de pouco tempo desconfiariam.<br />
— Não tenho medo por esse lado.<br />
Além disso, eu não podia deixar de<br />
estar comtigo ! Se soubesses como<br />
tenho passado! Ah! ó uma cousa<br />
horrível. Era impossível resistir por<br />
mais tempo! Ando estonteada, louquinha<br />
!<br />
E, tomando a cabeça de Luiz Portella,<br />
disse-lhe com os lábios encostados<br />
aos cfelle : — Tu me enfeitiçaste<br />
i Tu és um diabo !<br />
— E o commendador?! perguntou<br />
Portella, sem corresponder ás caricias<br />
de Thereza.— Não desconfia ainda<br />
de coisa alguma?!<br />
Thereza respondeu com um gesto<br />
muito expressivo. E accrescentou<br />
depois, com o ar mais serio: — Coitado<br />
! Nem lhe passa similhante coisa<br />
pela idéa!<br />
Portella fez ainda varias perguntas<br />
sobre o Jacob, sobre Olympia, sobre<br />
as pessoas que appareciam em casa<br />
do commendador. Thereza respondia<br />
por condescendência. Aquelle assumpto<br />
frio e cheio de prudencias a<br />
enchia de tédio.<br />
— Deixa lá isso! reprehendeu ella.<br />
Ainda não me deste um beijo!<br />
Portella apressou-se a cumprir<br />
aquella ordem, mas a rapariga notou<br />
que o impulso não era natural. O<br />
amante estava fora de si.<br />
— Estás insupportavel, disse ella,<br />
resentida.<br />
Portella confessou que se achava<br />
sobresaltado.— Não sei o que tenho,<br />
disse elle! E' a primeira vez que me<br />
acho neste estado. Sinto tremores<br />
pelo corpo. Olha como tenho as mãos<br />
frias !<br />
— Eu também estou assim! respondeu<br />
ella, abraçando-se ao rapaz.