Baixar - Brasiliana USP
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curar a cabeça da amante, metteu o<br />
rovólver na algibeira e ganhou a rua<br />
com direcção á casa de seu compadre<br />
Leão- Vermelho, que nasse tempo,<br />
como se deve lembrar o leitor, moravc<br />
no Campo de SantAnna, em<br />
companhia d'aquella nossa couhecida<br />
Henriqueta, de cuja extincta casa de<br />
pensões, já outr'ora fizera parte o<br />
amante de Thereza.<br />
LeãoVermelhosoffriapor essa época<br />
a implacável perseguição de que falíamos<br />
no capitulo trinta e dous, e partia<br />
no dia seguinte para Buenos-<br />
Ayres.<br />
— Compadre, exclamou Portella,<br />
assim que se achou defronte d'elle —<br />
Venho disposto a seguir com você.<br />
O commissario fez um gesto de espanto<br />
e pediu ao outro que se explicasse.<br />
— Vai sempre amanhã? perguntou<br />
o padrinho de Clorinda.<br />
— Definitivamente.<br />
— Pois vamos juntos. Não me convém<br />
ficar mais tempo no Rio de Janeiro.<br />
Tenho poucos recursos; irei<br />
como seu empregado, serve-lhe ?<br />
— Mas que resoluçãoé essa? interrogou<br />
Leão Vermelho.<br />
— Questões de amor! Explicou Portella,<br />
fazendo-se contrariado—Não<br />
posso ficar aqui.<br />
— Mas veja lá se vai dar aiguma<br />
cabeçada. Você está bem arranjado.<br />
— Já deixei o emprego. Já liquidei<br />
todos os meus negócios. Só desejo<br />
saber se posso ou não contar<br />
com você.<br />
— Pois não; eu até estimo. Nunca<br />
lhe propuz similhante cousa, porque<br />
sempre me pareceu que ella lhe seria<br />
pouco vantajosa. Uma vez que você<br />
o quer...<br />
— Posso então preparar-me, não?!<br />
MYSTERIO DA TIJUCA 159<br />
— De certo.<br />
— Pois até amanhã.<br />
E Portella sahiu da casa do compadre<br />
para se ir despedir do emprego,<br />
onde o arranjara o commendador;<br />
recolheu suas economias,<br />
pagou uma ou outra pequena divida<br />
que havia feito, e seguiu para casa.<br />
Encontrou Thereza dormindo.<br />
— O que?! disse elle entrando<br />
assustado no quarto—Pois ainda não<br />
voltou a si ? !<br />
A rapariga acordou, fez um grande<br />
espanto quando o viu e cobriu-o de<br />
perguntas', queria saber tudo o que<br />
havia succedido, os perigos a que o<br />
amante se expuzera.<br />
— Tu deves estar cahindo de fome !<br />
observou elle. E'quasi noite. Eu vou<br />
arranjar-te o que comer. Espera.<br />
— Não, conta-me primeiro o que<br />
ha, o que se passou aqui. Estou louca<br />
por saber de tudo.<br />
— Resume-se tudo em duas palavras,<br />
disse Portella.— Teu marido<br />
procedeu contra mim, tenho a justiça<br />
sobre a cabeça e.fujo p.manhã mesmo<br />
do Rio de Janeiro.<br />
— Eu vou comtigo! exclamou ella,<br />
abraçando-o.<br />
— Impossível! respondeu elle.—<br />
Para fazer similhante viagem precisei<br />
arranjar-me como secretario de<br />
um sujeito, que sahe amanhã ou<br />
talvez depois para a Europa; elle<br />
consente em levar-me com a condição<br />
de que irei só.<br />
— E eu?! perguntou a mulher do<br />
commendador, empailidecendo.<br />
— Tu voltas para a companhia<br />
de teu marido. Elle está resolvido<br />
a perdoar-te tudo e receber-to de<br />
novo.<br />
— Isso é que é impossível ! Além<br />
de que não me convém!