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Baixar - Brasiliana USP

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o jantar, apezar da alegria ruidosa<br />

de Roberto.<br />

Só á noite, com a chegada de D. Januaria<br />

e da filha, é que Gregorio<br />

conseguio descobrir o que diabo tanto<br />

desejava elle esse dia—era ver Clorinda.<br />

— Ora esta! dizia comsigo o rapaz<br />

—E eu que não atinava!...<br />

XII<br />

EM CASA DO DR. ROBERTO<br />

Gregorio não esperou segundo convite<br />

para jantar aos domingos com<br />

o Dr. Roberto.<br />

Duas razões o levavam a dar semelhante<br />

passo: a primeira era porque<br />

n'aquelles dias costumava o amigo<br />

reunir em casa algumas pessoas, entre<br />

as quaes figuravam quasi sempre<br />

D. Januaria e a sua adorável filha<br />

adoptiva. A segunda razão o leitor<br />

saberá d'aqui a pouco. Por emquanto<br />

precisamos fallar de outra cousa.<br />

As reuniões do Dr. Roberto eram<br />

muito limitadas; pouca gente apparecia,<br />

além da que acabamos de citar.<br />

A mulher, D. Thereza, não dava<br />

muito para etiquetas, si bem que jogasse<br />

soffrivelmente com os preceitos<br />

da cortezia e fosse de seu natural<br />

amiga de agradar e servir. Gostava,<br />

porém, que não a tirassem da liberdade<br />

e do commodo.<br />

' Isso mesmo dizia o seu ar descançado<br />

e bondoso, e a sua figura gorda<br />

e lymphatica. Comtudo era muito<br />

difficil sorprehender-lhe nos lábios o<br />

menor gesto de contrariedade, e até<br />

consta que ella, por mais de uma<br />

vez, tomara espontaneamente muitas<br />

massadas por infelizes, cujo único<br />

mérito e cuja única attracção era a<br />

necessidade.<br />

MYSTER10 DA TIJNCA 31<br />

No fim de poucas horas de conversa<br />

já se ficava gostando d'aquellas maneiras<br />

singellas e d'aquelle tratar<br />

sem ceremonia. D. Thereza mettia<br />

a gente no coração,sem esforços, sem<br />

barulho, inalteravelmente. Tomavanos<br />

a sympathia e a estima como<br />

quem toma uma cajuada— aos goles<br />

largos e compassados.<br />

Gregorio quando a visitou pela primeira<br />

vez, depois do espectaculo do<br />

Lavradio, passou algumas horas«\ssentado<br />

ao seu lado, e sentio-se durante<br />

esse tempo ir pouco a pouco<br />

penetrando do ar morno, indifferentemente<br />

satisfeito, que respirava<br />

d'ella toda, como a própria temperatura<br />

do corpo.<br />

Thereza não se levantou para recebel-o,<br />

mas demorara nas suas mãos<br />

algum tempo a do rapaz, e indagavalhe<br />

da saúde com um riso esparrinhado<br />

por todo o rosto. A's vezes<br />

parecia que ella se deixava sorrir<br />

indeterminadamente, por esquecimento<br />

ou por preguiça de suspender<br />

o sorriso.<br />

Suas feições estavam sempre<br />

abertas, como as gavetas de um desmazelado.<br />

Mas olhava-se para dentro<br />

d'ellas, com o desinteresse com que<br />

se olha para o interior de gavetas<br />

vasias.<br />

Nada a sobresaltava, nada a affligia.<br />

De manhã, ás 10 horas, a criada ia<br />

ajudal-a a sahir da cama para o banho<br />

morno, depois servia-lhe uma<br />

papa de leite e farinha de mandioca,<br />

e passava a penteal-a, calçal-a e vestil-a.<br />

Durante esse tempo as duas conversavam—de<br />

vagar, molemente, um<br />

assumpto bambo, sem interesse para<br />

ninguém, e massadoramente virgulado<br />

de grandes pausas.

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