Baixar - Brasiliana USP
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A principio custòu-lhe bastante<br />
afazer-se ao seu novo estado, mas o<br />
desejo de viver honestamente, a necessidade<br />
congênita de conservar-se<br />
virtuosa, triumpharam de todos os<br />
obstáculos, e Januaria conseguiu<br />
passar alguns annos a servir, sem<br />
nunca relaxar os seus princípios de<br />
peregrina austeridade.<br />
Quando lhe principiaram a seccar<br />
as faces, e os lábios começaram a empobrecer<br />
de frescura e rubor, foi solicitada<br />
por D .'Henriqueta dos Santos<br />
(aquella com quem se casou Leão Vermelho)<br />
para ajudal-a no serviço de<br />
sua casa de pensão.<br />
Só a morte da mãi de Clorinda<br />
conseguiu separal-as. As duas mulheres,<br />
como já sabe o leitor, fizeram-se<br />
muito amigas. Januaria possuía<br />
o segredo de viver bem com uma<br />
pessoa de seu sexo. O que aliás é<br />
muito raro.<br />
Era muito condescendente, asseiada,<br />
activa, amiga de servir e agradar.<br />
Ninguém lhe ouvia uma phrase<br />
de cólera, ninguém lhe surprendia<br />
um momento de máu humor. O sorriso<br />
parecia fazer parte intrínseca de<br />
seus lábios; seus olhos eram doces e<br />
transparentes como os olhos de uma<br />
criança. N'aquella physionomia calma<br />
e; cheia de bondade não havia<br />
resaibo de resentimento e de ódio ;<br />
n'ella tudo respirava resignação e<br />
paciência. As necessidades mortificadoras<br />
de sua vida não lograram<br />
azedar-lhe. o sangue e derramar-lhe<br />
a bilis no coração.<br />
Como não seria bom o homem que<br />
nascesse d'essa mulher! Como não<br />
seria feliz a creatura que fosse em<br />
pequenina aquecida nas azas d'aquelleanjo<br />
! E ella, que possuía todas<br />
as subtilezas da ternura, todos os<br />
MYSTERIO DA TIJUCA 201<br />
mysterios do amor legitimo e fecundo;<br />
ella, que parecia ter vindo aterra<br />
só para cumprir um destino de sacrifícios<br />
e de abnegação, ella como<br />
não saberia ser mãe! como não saberia<br />
dar-se toda ao entesinho querido<br />
que lhe sahisse das entranhas.<br />
Entretanto Januaria nunca desfruetou<br />
essa ventura, nunca produziu<br />
um filho. Quando nasceu Clorinda,<br />
ella entregou-lhe o coração<br />
ainda intacto n'esse amor, ainda<br />
completamente entumecido da maternal<br />
substancia com que a natureza<br />
o enchera.<br />
Alimentou-a com a sua ternura,<br />
deu-lhe a beber o seu coração, como<br />
se lhe entregasse uma teta fecunda,<br />
repleta de leite.<br />
O leitor, se percorreu o capitulo<br />
trinta e dois, não precisa que lhe<br />
digamos os suecessos determinados<br />
pelo casamento de Leão Vermelho, e<br />
saberá, tão bem como nós, que, depois<br />
da morte de Henriqueta, a pequenita<br />
Clorinda ficou entregue aos<br />
cuidados da madrinha, emquanto o<br />
desventurado pae fugia para a pátria,<br />
desesperado e perseguido.<br />
Foi pouco depois d'isso que o pharmaceutico,<br />
já então viuvo e adiantado<br />
nos annos, vendo-se na contingência<br />
de retirar Mathilde do collegio<br />
e confial-a a alguma senhora verda:<br />
deirainente honesta, lembrou-se de<br />
procurar a velha Januaria e pedir-lhe<br />
que tomasse conta da abastada orphã.<br />
D. Januaria aceitou, o que deu logar<br />
ao namoro de Portella com Mathilde.<br />
Mas por ora, cumpre deixar-nos<br />
tudo isso de mão para darmos conta<br />
final dos outros personagens, que<br />
foram ficando abandonados pelos<br />
passados capitulos.