Baixar - Brasiliana USP
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22 MYSTERIO DA TIJUCA<br />
os seus braços e não para os meus !..<br />
Que vale por conseguinte a sua<br />
tristeza de criança, comparada á dôr<br />
enorme que me estaçalha o coração ?!<br />
— Eu não a comprehendo ! Observou<br />
a noiva.<br />
— Nem se pôde comprehender nada<br />
d'isto na sua edade, como também na<br />
sua edade ainda não se pôde avaliar<br />
a força indomável e fatal de um verdadeiro<br />
amor ! Criança! O amor aos<br />
quinze annos é pouco mais que o ultimo<br />
folguedo da meninice ; atraz<br />
d'elle não existe um passado, existe<br />
quando muito uma boneca !<br />
— Senhora !<br />
— Oh ! Não vim cá para disputar<br />
seu noivo ! Vim com a intenção de<br />
salval-o. Nada consegui ! Paciência !<br />
Volto resignada com a vontade de<br />
Deus!<br />
Clorinda segurou-a por um braço.<br />
— Mas, por piedade! Explique-me o<br />
que ha ! O que foi feito de Gregorio!<br />
— E' accusado de um roubo e de<br />
um assassinato ! Explicou a viuva,<br />
finalmente.<br />
— Ah ! Gritou a outra, como se só<br />
esperasse aquella phrase para ter a<br />
confirmação de uma terrível suspeita.<br />
E cahio de costas.<br />
O quarto encheu-se logo. Todos<br />
queriam saber o que havia. D. Januaria<br />
correu a apoderar-se da filha,<br />
e os mais principiaram a cruzar entre<br />
si olhares interrogativos e desconfiados.<br />
Julia, sem dar mostras do que se<br />
passava em torno de si, afastou-se<br />
distrahidamente e sahio a dizer entre<br />
dentes:—Preso e accusado ! Preso<br />
talvez para sempre!<br />
E ao entrar no carro, que a esperava<br />
na porta,abrio a soluçar com desespero<br />
Recolheu-se á casa, mas não pôde<br />
socegar.<br />
A duvida sobre o destino de Gregorio<br />
trazia-lhe o espirito em um sobresalto<br />
constante. — Era urgente<br />
obter noticias d'elle n'aquella mesma<br />
noite,fosse de quem fosse! Custasse o<br />
que custasse! Com tanto que Julia soubesse<br />
o que era feito de seu Gregorio.<br />
E n'esta impaciência percorria toda<br />
a casa; ora ia á janella, ora de um<br />
quarto para outro. Chamou duas vezes<br />
a criada para mandar á policia,<br />
mas receiando complicar mais a situação,<br />
resolveu não mandar. Afinal<br />
pedio a capa e o chapéo, e deliberou<br />
sahir. Eram já oito horas da noite.<br />
— Lá em baixo talvez ella conseguisse<br />
saber alguma cousa a respeito<br />
de Gregorio... calculava a viuva,<br />
descendo commovida a escadinha do<br />
chalet. Ao chegar ao jardim soltou<br />
um grito.<br />
Pareceu-lhe haver distinguido, encostado<br />
ao muro,e meio escondido na<br />
sombra, o vulto de um homem, que<br />
a observava attentamente.<br />
— Angela ! Bradou ella para dentro<br />
da casa..<br />
— Angela! Traz luz !<br />
E não pôde accrescentar mais nada,<br />
porque as pernas tremiam-lhe eavoz<br />
embaraçava-se-lhe na garganta.<br />
A criada, também possuída já do<br />
susto, appareceu com a luz,<br />
Julia não se havia enganado. Escondido<br />
nas moitas do jardim, estava<br />
um homem, que se dirigio humilda»<br />
mente para ella,com o chapéo na mão.<br />
— Ai ! Intergeicionou a viuva<br />
recuando aterrada.<br />
— Não se assuste, minha senhora<br />
disse o desconhecido, com muita brandura.<br />
Eu não faço mal a ninguém !<br />
Sou um pobre velho inoffensivo.