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Baixar - Brasiliana USP

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modo ! Sete mezes não são sete dias,<br />

coitada!<br />

E a fazer d'estes raciocínios, o Tubarão<br />

virava-se de um para o outro<br />

lado da cama, sem conseguir dormir.<br />

Deram onze horas, doze, uma, e<br />

nada! O somno não queria vir.<br />

Tubarão levantou-se, ia accender um<br />

cigarro e esperar que elle chegasse<br />

assentado nos bancos do jardim. Mas,<br />

aítes de riscar o phosphoro, sentiu<br />

rumor de passos justamente no logar<br />

para onde tencionava ir.<br />

— Olé! Disse comsigo.—Ha mais<br />

quem não consiga adormecer?...<br />

Ora, vamos ver quem é o meu companheiro<br />

de insomnia.<br />

E, com muito cuidado, espreitou<br />

pela janella, de modo que não fosse<br />

visto.<br />

Effectivamente um vulto negro,<br />

que parecia de homem pela estatura,<br />

acabava de saltar a grade e dirigia-se<br />

para um massiço de verdura, que<br />

ficava justamente por debaixo das<br />

janellas de Cecília.<br />

Tubarão sentio o coração estrebuchar-lhe<br />

dentro, como se quizesse<br />

saltar-lhe fora pela bocca. Tremeramlhe<br />

as pernas, faltou-lhe quasi a respiração,<br />

e a pelle crispou-se-lhe toda<br />

em um calafrio de febre.<br />

O vulto chegara á janella de Cecília<br />

e roçara levemente a ponta da<br />

bengalla pelas gelosias fechadas.<br />

O marinheiro espiava, com uma<br />

anciedade crescente. A' semelhança<br />

dos náufragos que, a proporção que<br />

lhes sentem escapar das mãos os<br />

meios dè salvamento, vão refugiando<br />

a esperança em tudo que lhes açode<br />

á phantasia, elle contava ainda poder<br />

no fim de tudo justificar a innocencia<br />

de sua querida ama.<br />

MYSTERIO DA TIJUCA 57<br />

Mas,ao quarto signal do vulto mysterioso,<br />

abrio-se discretamente uma<br />

das folhas da janella, e a cabeça encantadora<br />

de Cecília assomou á luz<br />

melancólica das estrellas.<br />

Conversaram os dous, mas Tubarão<br />

não conseguio ouvir mais que um<br />

confuso sussurrar de vozes, que se<br />

perdia no somnolento rumorejo da<br />

noite. No fim de meia hora a janella<br />

fechou-se de novo, e o vulto encaminhou-se<br />

vagarosamente para o portão.<br />

O marinheiro, havia já collocado á<br />

cinta a navalha que lhe dera o commandante,<br />

abrira a porta e, collando-se<br />

á parede, ganhou cautelosamente<br />

o jardim pelo lado contrario,<br />

ao que seguira o vulto.<br />

Só o conseguio avistar já na rua,<br />

ao dobrar de uma esquina. Tubarão<br />

caminhou mais apressadamente para<br />

elle, porém,na occasião de alcançal-o,<br />

sahiram-lhe ao encontro dois homens<br />

e obstaram-lhe o passo.<br />

— O que deseja o Sr. d'aquella<br />

pessoa ? Perguntou-lhe um d'elles,<br />

com accento muito hespanhol.<br />

— Quero perguntar-lhe uma cousa.<br />

— Pois entenda-se comnosco. Elle<br />

agora não lhe pôde fallar. O que deseja<br />

d'elle, vamos!<br />

O marinheiro respondeu d'esta vez<br />

com um formidável empurrão, que<br />

atirou por terra os díois sujeitos. E<br />

lançou-se de novo a perseguir o vulto<br />

do jardim.<br />

Este, porém, havia aproveitado o<br />

conflicto para fugir, e o marinheiro<br />

não conseguio mais apanhal-o.<br />

Entretanto os dois outros homens<br />

seguiam de perto Tubarão, a fallar<br />

emvoz baixa, e a bater nas pedras<br />

da rua com as suas grossas bengalas.<br />

O marinheiro,quando se convenceu<br />

de que não alcançaria mais o vulto

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